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Reforma do sambódromo deve ser adiada

Por Agencia Estado
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O projeto do Prefeitura do Rio de aumentar a capacidade do sambódromo em 15 mil lugares pode não sair do papel até 2002, como esta previsto. Para construir as novas arquibancadas desenhadas por Oscar Nieymeyer, autor também da Passarela do Samba, o prefeito Luiz Paulo Conde sugere a demolição dos prédios ocupados pela cervejaria Brahma desde o século passado, mas não encontra unaminidade. O valor histórico conjunto é discutível, mas o afetivo, não. Lá funcionou a primeira grande fábrica de cerveja da cidade, cujo registro mais antigo data de 1888. Enquanto a Brahma espera uma proposta oficial do poder municipal para se posicionar sobre o assunto e tenta sondar a Prefeitura para saber qual é o seu projeto, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) se preocupa com o esvaziamento da área, berço do samba, mas hoje praticamente um deserto. O Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac), que tombou o sambódromo logo após sua inauguração, em 1983, alerta para a obritatoriedade de se manter a mesma proporção que existe hoje entre as construções que ali existem. "Nenhum prédio da Brahma é tombado, mas eles estão na área de tutela da Passarela do Samba", explica o diretor do Inepac Alexei Bueno. "Se for demolido, deve haver outra obra para respeitar a volumetria do que foi tombado", prossegue. "Ali deve ser construído outro prédio com 15 andares, que é o gabarito da área." O presidente do IAB no Rio, o arquiteto e urbanista Carlos Fernando Andrade, ressalta que desconhece o projeto de Oscar Niemeyer (que, na verdade, ainda não desenhou nada) e, analisando uma foto aérea do local, lembra que os prédios da Brahma podem ser poupados. "Se for para manter a simetria das arquibancadas do sambódromo, só uma pequena área será afetada", adianta Andrade. "E certamente o prédio mais antigo fica fora dessa área." O arquiteto se refere à antiga fábrica, um dos prédios que a cervejaria ocupa na área. É lá que em 1888 já funcionava a primeira fábrica de cerveja, quando a bebida só era feita no Rio artesanalmente. Sua construção com a feição que tem hoje aconteceu entre 1897 e 1908. No auge do funcionamento, trabalhavam 450 operários, que chegaram a produzir seis milhões de litros de cerveja por ano. Com a construção da nova fábrica, em Campo Grande, na zona oeste, a antiga cervejaria foi desativada em 1994 e hoje se encontra vazia. Os outros prédios também estão parcialmente ocupados com a direção regional da empresa, cuja sede mudou-se para São Paulo há três anos. Até o museu da cerveja que funcionava no local foi fechado no mês passado. Com a fusão da Antarctica com a Brahma para a criação da Ambev, a empresa estuda se é melhor fundir também os museus das duas fábricas (o da Antarctica fica em São Paulo) ou continuar cada uma com o seu e também e em qual cidade os acervos vão ficar, juntos ou separados. A notícia do fechamento entristece o presidente do IAB, devido ao esvaziamento da área. "Ali há grandes claros, sem nada além de estacionamentos", lamenta Andrade. "Por que não se aproveita aquela área, com metrô e muitas linhas de ônibus passando por perto para construir, além do sambódromo, um centro de exposições, já que o Riocentro, o único que temos, é longe e de difícil acesso?" A Brahma não divulga o tamanho da área que ocupa junto ao sambódromo, mas certamente seu valor de mercado é alto e, no caso de uma desapropriação, a prefeitura terá que desembolsar muito dinheiro. Não foi por outro motivo que, na construção do sambódromo, em 1982, a fábrica e a sede da cervejaria, então funcionando a pleno vapor, foram poupadas.

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