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Reedições dão fôlego novo à obra de Hilda Hilst

A escritora, que vive reclusa no interior do Estado, está tendo toda sua obra relançada pela Editora Globo. E os livros têm alcançado boas vendagens

Por Agencia Estado
Atualização:

A escritora Hilda Hilst voltou a ter esperanças de chegar aos leitores. Depois de uma dura negociação, ela assinou contrato, ano passado, com a Editora Globo, que reeditará toda sua obra. Os primeiros dois livros chegaram no final de 2001 às livrarias com tiragem de 5 mil exemplares cada um. No início do mês, Wagner Carelli, editor de livros da Globo, comemorava: as 10 mil unidades de Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão e A Obscena Senhora D foram vendidas pela editora quase um mês depois de lançadas. Sai agora Bufólicas (Globo, 64 págs., R$ 17), publicado pela Massao Ohno Editor em 1992. O livro é uma reunião de poemas cômicos, picantes e farsescos e volta a circular com as ilustrações de Jaguar presentes na primeira edição. Em um dos poemas, A Cantora Gritante, algumas mulheres resolvem punir uma vizinha por causa de sua voz afinada que, cantando, enternecia os maridos alheios. Os versos finais trazem uma advertência como moral da história: "Se o teu canto é bonito, cuida que não seja um grito". A escritora queria se aproximar dos leitores pela linguagem mais fácil e bem-humorada, mas sem abrir mão do seu jeito de ver o mundo. Se a obra de Hilda Hilst ficou longe das estantes e ignorada pelo público durante décadas, quem as gerou sempre gozou da atenção da imprensa. Muito em razão da estranheza que causam suas declarações e modos de vida, Hilda acabou se transformando num grande personagem. Desde a década de 60, a poeta, dramaturga e escritora vive retirada num sítio de 10 mil metros quadrados a 150 km de Campinas, denominado por ela de Chácara do Sol. Foi lá que escreveu boa parte dos mais de 60 livros que a Globo vai reeditar em 11 volumes de prosa e nove de poesia. No retiro ela convive com mais de 60 cachorros, e mantém uma estação de radiofonia em que aplica os métodos de Sonia Rinaldi (autora de Transcomunicação Instrumental) para falar com mortos e espíritos. Aos 71 anos, Hilda quase não sai de casa. Lê sem parar, fuma dois maços de cigarro todo o dia e toma uma garrafa de vinho do Porto, também diariamente. Mas a ermitã já teve dias de cinderela. A jovem Hilda Hilst, colega de Lygia Fagundes Telles na Faculdade do Largo de São Francisco, deixava homens e mulheres tontos por onde passava. Sua beleza atraiu personagens como Dean Martin, com quem saiu durante um mês, e Marlon Brando, que não resistiu aos olhos claros e às madeixas louras da escritora. Hilda não quis envelhecer em ambientes mundanos e se retirou enquanto ainda arrancava suspiros masculinos. Começava ali o mito de Greta Garbo da literatura nacional. Longe do burburinho, pôs-se a escrever e clamava ser reconhecida. Se não alcançou popularidade ao menos caiu nos braços da crítica, que a acumula de superlativos.

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