"Re-bentos" leva ao palco o drama dos cortiços

Segunda produção da Cia. do Pessoal do Faroeste, Re-bentos fala do grave problema de moradia que cidades como São Paulo enfrentam. A peça vai ter temporada gratuita

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Por Agencia Estado
Atualização:

Há cinco anos um grupo de jovens atores ousou ao encenar Um Certo Faroeste Caboclo, espetáculo baseado na canção Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana. Além do grande poder de comunicação alcançado - sucesso entre o público jovem -, a montagem recebeu o Prêmio Jovem Coca-Cola (Panamco) de direção e coreografia, além de indicações para os prêmios Coca-Cola e Apetesp nas categorias música, espetáculo, atriz e texto. A montagem consolidou a formação da Cia. do Pessoal do Faroeste, atualmente com sede no Centro Cultural Capobianco, inaugurado este ano na Ladeira da Memória. Com mais três espetáculos no currículo, o grupo parte agora para uma montagem mais ambiciosa, Re-bentos. Criada a partir de uma longa pesquisa com moradores de ocupações, invasões e cortiços do centro da cidade, o projeto da montagem foi um dos selecionados para ser financiado por intermédio do Programa Municipal de Fomento para a Cidade de São Paulo. Com texto assinado por Paulo Faria (diretor de Um Certo Faroeste Caboclo), que também divide a direção da montagem com Edgar de Castro e dez atores no elenco, Re-bentos está em cartaz no Centro Cultural Capobianco, com entrada grátis em todas as sessões, contrapartida ao apoio recebido por meio de verba pública. Com duração de 70 minutos, a ação da peça se passa em um único dia, num cortiço do centro da cidade, onde ocorre uma tragédia. Nesse dia, o cortiço havia sofrido uma invasão. "Há três movimentos diferentes decorrentes do grave problema de moradia", explica Faria. "As ocupações são realizadas por grupos mais organizados, o que não ocorre nas invasões. Já nos cortiços as pessoas pagam aluguéis." No caso do cortiço da peça, os moradores pagam aluguel a um intermediário que, na maioria dos casos, foi também um invasor em tempos remotos. Na peça, os moradores do cortiço estão com aluguéis atrasados e começam a organizar-se para resolver o problema. Porém, um temporal derruba parte do cortiço, ele acaba sofrendo uma nova invasão. "Essa invasão acaba por desestabilizar a organização incipiente do cortiço e provoca a tragédia." Cientes da dificuldade da empreitada, o grupo antecipa não ter a pretensão de traçar um amplo ou profundo painel desse grave problema. Uma história de amor perpassa a trama. "Tentamos trabalhar com bastante objetividade para não nos perdermos. Criamos uma história com começo, meio e fim. A tragédia é dada logo na primeira cena. Os mortos estão ali, um incêndio destruiu o cortiço. A partir daí, vamos contar o que ocorreu naquele dia." O grupo também não tem a pretensão de apontar soluções. "Elas estão sendo buscadas tanto por parte dos que sofrem o problema como pela sociedade. Estamos escrevendo no calor dos acontecimentos, como um crônica, e o que tentamos é propor uma discussão por meio do teatro. Tanto que teremos debates com grupos de ocupação após os espetáculos", argumenta Faria. Re-bentos - Direção Edgar Castro e Paulo Faria. Duração 70 minutos. Sexta e sábado, às 21 h, e domingo, às 18h30. Entrada franca. Centro Cultural Capobianco. Rua Álvaro de Carvalho, 97, tel. (11) 3151-2266. Até 22/12.

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