05 de janeiro de 2011 | 00h00
Semelhanças à parte, Trabalho Sujo é menos logrado - mas não menos ambicioso. Não são muitos os filmes, mesmo independentes, que costumam tratar da pobreza na sociedade dos EUA. Por momentos, Trabalho Sujo sugere um filme de Michael Moore, um documentário sobre o fracasso do capitalismo, como sistema humanitário, tratado em chave de ficção. A família do filme é um desastre. A morte prematura da mãe agiu como fator de desagregação do grupo. A filha sexy, objeto de desejo na escola, cria o filho a trancos e barrancos. A irmã trabalha ocasionalmente como garçonete, quando não está sonhando, entupida de erva. O velho pai é um sonhador - de olhos abertos - que tem planos para mudar o mundo, mas eles não dão certo.
A rigor, existem dois filmes em Trabalho Sujo, um cômico e outro dramático. Raramente se harmonizam. Em seus melhores momentos, o filme carrega no humor negro e o público se engasga de rir em cenas - sinistras - como a que mostra as irmãs limpando um banheiro ensanguentado com uma escova minúscula. Pois o trabalho sujo é esse. As irmãs começam a ganhar dinheiro fazendo o trabalho que todo mundo recusa na sociedade competitiva - elas limpam cenas de crimes. É o tema de Catherine Jeffs. Abaixo da linha de pobreza, a possibilidade de ascensão liga-se ao que repugna o topo da pirâmide social.
A família começa a ganhar dinheiro, mas as tensões internas também se aguçam. Amy Adams não tem diálogo com o filho, que também não vai bem na escola. Só quem entende e se comunica com o garoto é o avô. É uma "América" terceiromundista que você não está acostumado a ver no cinema. Os pobres não são os chicanos da vez e Emily Blunt, a outra irmã, cai na latrina depois de ser indicada para o Oscar por sua criação como a jovem Rainha Vitória. "Weird", como diriam os próprios norte-americanos.
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