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"Rap do Pequeno Príncipe" sai em VT

O vídeo mostra a crua realidade das periferias pobres. Pequeno Príncipe é o apelido de um matador da periferia do Recife, Helinho. Almas Sebosas são aquelas que ele despachava desta para melhor

Por Agencia Estado
Atualização:

Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas. Talvez você já tenha ouvido falar nesse título meio hermético. Se não ouviu, nem conhece o filme, convém esclarecer. Pequeno Príncipe é o apelido de um matador da periferia do Recife, Helinho. Almas Sebosas são aquelas que Helinho considerava indignas de convivência social e, gentilmente, a serviço da comunidade, despachava desta para melhor. Ou para pior, segundo o ponto de vista. Os diretores do documentário são Marcelo Luna e Paulo Caldas (este, co-autor de Baile Perfumado, um dos melhores longas de ficção da retomada do cinema brasileiro). A comunidade onde a história acontece é Camaragibe, um dos infernos sociais brasileiros, periferia do Recife. Nesse buraco do mundo, duas vidas se desenvolvem paralelamente. Uma é de Helinho, o justiceiro. Outra, é do músico de rap chamado Garnizé. Tornaram-se amigos. Garnizé, líder e guru do grupo Faces do Subúrbio, expressa sua revolta em termos artísticos (goste-se ou não do rap, com suas frases duras quase faladas, musicalidade mínima, palavras ásperas articuladas com os dentes rilhados). Outro, procurava sanear o bairro onde vivia, eliminado os maus elementos, as almas sebosas que tornavam impossível a vida dos cidadãos pacíficos. O verbo está no passado porque Helinho foi parar na prisão, acusado de dezenas de assassinatos. Durou pouco lá dentro. Foi ele também eliminado pelos mesmos métodos que empregava em sua ação de higiene social. Quando o filme foi lançado nos cinemas ainda vivia. Algumas coisas impressionam no documentário. Uma delas, talvez a mais marcante, a naturalidade, quase a doçura de Helinho descrevendo sua ação social. Impressionam, mas não deveriam causar espanto. Lá onde o Estado se omite, a população se vira como pode. Entregue à própria sorte, sente-se protegida por xerifes como Helinho, que viram figuras proeminentes da comunidade e transitam com tranqüilidade nessa zona cinzenta entre a lei e o crime. São os simulacros tupiniquins de poderosos chefões decaídos. Reis em sociedades miseráveis. As imagens - fortes - propostas por Luna e Caldas fazem uma radiografia bastante incisiva do débito social brasileiro. Helinho e Garnizé são faces da mesma moeda. Reagem de maneira distinta (uma simbólica, outra real) à mesma realidade que lhes é proposta. Rap do Pequeno Príncipe é cinema urgente, que trabalha rente ao palpável. Desvela esse real duro, que se tenta varrer para baixo do tapete. Mostra o que não se quer ver. Rap do Pequeno Príncipe. Brasil, 1999. Dir. de Paulo Caldas e Marcelo Luna. Vídeo da Europa, nas locadoras.

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