Rádio que lançou o rock nacional faria 20 anos

Fundada em 1982, a emissora carioca fez fama divulgando grupos que despontavam no cenário musical, como Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Ira! e Capital Inicial

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Por Agencia Estado
Atualização:

Se ainda estivesse no ar, a rádio Fluminense FM, no Rio, estaria completando na sexta-feira, às 6 horas, 20 anos de rock. Fundada em 1982, a emissora carioca fez fama divulgando o trabalho dos novos músicos ou grupos que despontavam no cenário musical. Dessa safra de desconhecidos, saíram nomes como Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Ira!, Capital Inicial, entre tantos outros. Valorizou ainda outros sons, como o de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. O jornalista Luiz Antonio Mello, um dos fundadores da emissora, conta que a primeira vez que uma música do Lobão tocou no rádio foi na programação da Fluminense FM. "O Lobão trouxe o primeiro disco dele gravado numa fita para tocarmos", relata. "Era Cena de Cinema, com Lulu Santos na guitarra e Marina Lima nos backing vocals." O próprio Lobão admite que na época só havia uma saída: encaminhar o trabalho para a Fluminense. "Acho que foi fundamental uma rádio que quebrasse todos os protocolos e investisse no novo tocando rudimentares fitas cassetes de uma rapaziada que estava surgindo." Segundo Mello, a idéia de criar um projeto com tais moldes surgiu durante um plantão chuvoso no Jornal do Brasil. Na época, o jornalista trabalhava na rádio do JB e o co-mentor do projeto, Samuel Wainer Júnior, na redação do jornal. O piloto do programa, que se chamaria Rock Alive, foi aprovado pela direção da então experimental Fluminense FM. "Eles gostaram tanto que nos pediram para organizarmos toda a programação da rádio." Mello e Wainer tinham em mente estabelecer uma linguagem diferenciada, mesclando jornalismo e música. Ainda mais que, naquele início de anos 80, se esboçava uma abertura política no Brasil. "Era uma rádio totalmente de esquerda, que respeitava a inteligência do jovem. Cobríamos desde campeonato de surfe até greve de médicos", descreve Luiz Antonio Mello. Enquanto a Fluminense desempenhava o papel panfletário, o rock servia de trilha sonora. A seleção incluía nacionais e internacionais. O baterista do Paralamas do Sucesso, João Barone se recorda bem do período. "Fomos uma das primeiras bandas a aparecer na rádio. Ela inovou ao abrir espaço para os grupos que estavam começando." Para ele, tratava-se de uma atitude de ousadia em falta nas rádios brasileiras de hoje. A Fluminense FM desencadeou uma rede "maldita" (como era denominada no próprio slogan), que encontrou ecos em radiodifusoras paulistas, gaúchas e de outros Estados. "Muitos paulistas que iam para o Rio gravavam nossa programação numa fita cassete e a levava para escutar em São Paulo", lembra Mello. Outro fundador da rádio carioca, o produtor Maurício Valladares atribui o fim da Fluminense, em 1994, à perda da originalidade. "Todas as novidades que estavam na Fluminense passavam a tocar em outras emissoras", diz Valladares, que também é fotógrafo. Ao abandonar o vigor da renovação, a rádio carioca não conseguiu enfrentar as concorrentes, mais fortes, e foi fadada à extinção. Volta da maldita - Em meados de 2001, a rádio Fluminense voltou ao dial carioca, mas agora na freqüência 540 AM. Entretanto, o que parecia ser a volta da ?maldita?, não significa um relançamento da mesma rádio que marcou época nos anos 80 e 90. Luiz Antonio Mello, um dos criadores da antiga Fluminense, não está na equipe da nova rádio. Ele afirma, em texto publicado no site Rocknet em 19 de julho de 2001, que a rádio e o slogan ?maldita? não lhe pertencem, e que por isso não poderia impedir o lançamento de uma nova rádio com o mesmo nome. Mas ele é claro ao dizer que não vê a nova rádio como a mesma Fluminense que ele ajudou a criar.

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