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Radical Chic, aos 18, ganha "Livro de Pensamentos"

Por Agencia Estado
Atualização:

A Radical Chic chega à maioridade cheia de filosofia. Depois de freqüentar por 18 anos as páginas de jornais e revistas, a personagem criada por Miguel Paiva em 1983 ganha um Livro de Pensamentos, reunindo suas máximas, publicadas ou não. "É uma mistura de frases que apareceram nas tiras e idéias novas. Tem mais reflexão que ação, como é característico da Radical", diz Paiva. "Decidi publicar mais texto que desenho porque o livro de quadrinho, além de caro, é tratado como produto de segunda categoria pelas livrarias. Depois da primeira semana, sai das vitrines e vai para o fundo da loja." Esse tratamento é tudo que a personagem rejeita e foge totalmente ao destino previsto por seu autor. Miguel Paiva nega ter se inspirado em uma mulher ou num grupo específico para criar a Radical, mas recebeu dicas de amigas que lhe passavam as idéias. "Hoje acontece menos porque já encontrei um filtro feminino para enxergar o mundo", reconhece ele. "Gosto desse jeito de ver a vida e acho que erro pouco porque recebo poucas críticas. Na maior parte das vezes, há empatia com os homens e uma identificação enorme com as mulheres." Paiva reconhece que a Radical Chic mudou nesses 18 anos. Antes era ferina. Hoje é mais contida, mas ficou cínica e cética. Ele tentou levá-la das tiras semanais (publicadas no Estado, no Globo e, brevemente, disponíveis para clientes da Agência Estado) para outros meios, mas desistiu. Em 1993, por exemplo, ganhou corpo com Andréa Beltrão, num game show exibido nos fins de tarde da Rede Globo. "Não deu errado porque foram 180 historietas, mas foi uma sucessão de produtos apresentados fora de época", lembra ele. "Ninguém ainda fazia game show, o departamento de marketing e publicidade da Globo não sabia como vendê-la e o público-alvo do programa não era definido. Mesmo assim, não foi um fracasso." Por causa de suas características, Paiva acha difícil também levá-la para o cinema ou o teatro, embora não faltem convites. "A Radical não tem uma identificação com pessoas reais. É difícil imaginar uma história completa porque lhe faltam dados para completar um personagem", afirma ele. Para Paiva, seria muito mais fácil dar esse destino ao Gatão de Meia Idade, personagem de suas tiras diárias. "Ele vive nesse mundo, tem uma profissão, uma filha pré-adolescente e uma ex-mulher. Só que eu não sou ele, embora, no início tenha lhe dado características minhas." Mesmo sendo semanal, Paiva confessa ser mais difícil fazer a Radical, especialmente porque ele parte do texto para o desenho. "É no texto que está o conflito, a idéia que quero passar e, mesmo que não tenha mais procupações ideológicas, não faria uma personagem moralista ou reacionária", garante o desenhista. "Não estou ligando para o politicamente correto, mas não abri mão da ética e o difícil é encontrar o ponto certo. Por isso, o desenho é o momento lúdico, de descontração." Sendo assim, não deve ter sido fácil reunir seus pensamentos num livro com mais texto que desenho. Para facilitar ele coloca, logo na capa, o lema de vida da Radical Chic ("Penso, logo, mudo de idéia") e, como prefácio, um perfil em que ela conta ser filha única de mineira e gaúcho, solteira e viver de bicos em atividades culturais. E confessa também que queria ser mais alta e mais magra (como 99% das mulheres), não ter medo de envelhecer e não ter ídolos ("Sou do tipo de mulher que no segundo dia, já começa a achar algum defeito nele"). Futilidade - Nos capítulos seguintes, ela fala sobre si mesma ("Sou xiita da bobagem"), sobre os homens ("É mais fácil certos homens te trocarem por outro automóvel que por outra mulher"), relacionamentos ("Certas brigas de casal são tão baixo nível que parecem mais uma guerra bacteriológica"), namorados ("Caio era apaixonado por mim. Não me dava presentes, mas me ouvia e isso vale fortunas") e casamento ("Se eu me casasse, meu casamento ia terminar antes de você acabar de ler esta frase"). Ou seja, questões fundamentais para mulheres que não abrem mão da futilidade. "O interessante é que várias mulheres vêm me dizer que elas são a Radical Chic. Mulheres de toda idade, tipos físicos mais variados e com profissões diversas", comenta Miguel Paiva. Ele não pretende encerrar a carreira da personagem tão cedo nem fazê-la crescer ou deixar de ser o que é: uma tira semanal em jornais. "Acho nobre produzir para jornal, fazer um produto perecível, que deve se renovar sempre. A Radical, aliás, é mais difícil que o Gatão porque se uma tira não fica boa, posso acertar no dia seguinte. No caso dela, o erro dura sete dias." A personagem refutaria a idéia de erro, certamente diria que mudou de estilo. Livro de Pensamentos da Radical Chic - , de Miguel Paiva. Editora Record, 84 páginas, R$ 15,00.

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