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Rachel: "Escrevo porque esse é o meu ganha-pão"

Um dos principais nomes da literatura brasileira, a autora de O Quinze chegou a dizer que não gostava de escrever: "sou muito preguiçosa" Leia sua última crônica publicada no Estado Ouça entrevista da autora à Rádio Eldorado

Por Agencia Estado
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Cearense de Fortaleza, Rachel de Queiroz estreou na literatura aos 19 anos, em 1930. A autora, que morreu hoje no Rio, onde vivia desde 1939, retratou no romance O Quinze a terrível seca que levou seus pais a deixarem o Ceará por um período de dois anos (1917-1919). O livro foi publicado com recursos próprios, numa edição modesta, de apenas mil exemplares. Mas suficiente para chamar a atenção da crítica e ganhar o primeiro prêmio da Fundação Graça Aranha, concedido em 1931. Três anos antes da publicação do livro, ela começou a escrever em jornais. Primeiro sob o pseudônimo Rita de Queluz, no jornal O Ceará, onde o editor acreditou que a crônica que recebera tivesse sido escrita por um homem. Depois, colaborou com o Diário de Notícias, O Cruzeiro, O Jornal, Diário de Pernambuco e o Estado. Certa vez, perguntada se se condiderava uma jornalista, Rachel respondeu: "É o que eu sou, é a minha profissão. Tenho carteirinha de jornalista". Após O Quinze, teve editado os romances João Miguel (1932), Caminho das Pedras (1937), As Três Marias (1939) e O Galo de Ouro (1950), publicado em capítulos na revista O Cruzeiro. Depois disso, dedicou-se às crônicas - escreveu mais de duas mil -, que foram reunidas em seis livros, e ao teatro, com as peças Lampião (1953) e A Beata Maria do Egito (1958). Somente em 1975, Rachel voltou ao romance com Dora Doralina. Em 1992, após mais um longo intervalo, publicou o livro que foi considerado sua obra-prima, Memorial de Maria Moura. "Eu não gosto de escrever. Escrevo porque esse é o meu ganha-pão (...) Sou muito preguiçosa", chegou a declarar. Embora tenha ajudado a fundar o Partido Comunista, acabou se desentendendo com os companheiros e deixou a sigla. Dizia que havia muita censura, queriam interferir no conteúdo de seus livros. Desafeta de Getúlio Vargas, Rachel de Queiroz participou da conspiração intelectual para a derrubada do então presidente João Goulart. Por diversas vezes, a casa dela serviu de reuniões do grupo que ajudou na queda de João Goulart, como diz no livro biográfico Tantos Anos. Grato, o marechal Humberto Castello Branco, que veio a ocupar a presidência, acabou se tornando um grande amigo e a visitava no Rio e no Ceará. Quando morreu, em um desastre de avião, em 18 de julho de 1967, havia acabado de sair da fazenda de Rachel em Quixadá. Rachel viajaria junto com ele, mas acabou desistindo, na última hora. Rachel não tinha religião e dizia não ter medo da morte. "Não acredito em Deus, nem na imortalidade da alma".

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