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Quatro filmes de Woody Allen, em DVD

Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, Zelig e A Rosa Púrpura do Cairo estão no novo pacote da FOX

Por Agencia Estado
Atualização:

Você pode ter o seu preferido entre os filmes de Woody Allen, mas é pouco provável que a escolha seja feita entre outros que não Hannah e Suas Irmãs e Crimes e Pecados, em uma direção, ou entre Zelig e A Rosa Púrpura do Cairo, em outra. Ah, sim: existem Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, que foi como se chamou Annie Hall no País, e o deslumbrante Manhattan, com sua Nova York filmada em preto-e-branco e embalada pela música de Gershwin. Existirá algo mais belo do que a ponte do Brooklyn ao som da Rhapsody in Blue naquela obra-prima? Pensando bem, é uma imagem de cartão-postal e, portanto... Não tem portanto: Manhattan é um grande filme de Woody Allen e o que melhor revela o amor do cineasta por Nova York. Não, Manhattan não integra a série de lançamentos em DVD dos filmes de Allen nas lojas e locadoras. Mas Zelig, sim e é a estrela do pacote que inclui, por ordem cronológica de produção: Interiores, Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão e A Outra. Três filmes bergmanianos, interessantes, por certo, magnificamente interpretados, também, mas que não representam o melhor do diretor (Allen não trabalha no primeiro nem no terceiro). Tirando Interiores, o novo pacote de Woody Allen também celebra a atriz Mia Farrow, com quem ele foi casado. Desnecessário lembrar a traumática separação, que alimentou durante meses a imprensa sensacionalista de todo o mundo. Mais relevante é investigar o papel, ou os papéis, que Allen atribuía a Mia, quando viviam num mar de rosas. A personagem dela é uma fantasia em Hannah e Suas Irmãs: não existe, de tal maneira é terna, compreensiva, tolerante na sua compaixão. Em compensação, no filme que anunciou o divórcio, Maridos e Esposas, Mia não está só feia como é uma peste. Não há como negar a evidência de que existe (pode existir) uma ligação entre a obra do artista e a sua vida privada. Só se espantou com as proezas técnicas de Forrest Gump o Contador de Histórias, de Robert Zemeckis - que venceu seis Oscars em 1994, entre eles melhor filme e direção -, quem não viu Zelig. Sintomaticamente, a obra-prima de Woody Allen não recebeu Oscar nenhum, em 1983. O próprio Allen interpreta Leonard Zelig e a melhor definição para ele é a de camaleão: é um ser bizarro que adquire as características físicas e mentais de quem estiver a seu lado. E tudo acontece nos anos 1920 e 30, o que permite a Zelig aparecer num cinejornal antigo, quase ao lado de Adolf Hitler, ou então junto ao papa Pio XI, no Vaticano. Zelig é um fenômeno cuja compreensão desafia médicos e intelectuais. Private jokes - Apenas a dra. Fletcher entende as causas psicológicas do estado do protagonista e tenta curá-lo. Apaixonam-se - a dra. Fletcher é Mia Farrow - e o camaleão é salvo pelo amor para que Woody Allen demonstre a tese embutida em Zelig: sim, por meio desse personagem que se mimetiza para garantir o anonimato, o ator e diretor critica a tentação do nazismo. E ainda prova, é onde entra o amor, que a verdadeira subversão se faz a dois. Há piadas privadas geniais: Susan Sontag interpreta o caso Zelig, justamente ela que é autora de Contra a Interpretação; e Allen conta que seu patético anti-herói só não entrou na letra de You re the Top, na qual Cole Porter colocou meio mundo que importa (de Mickey Mouse a Gandhi, de Fred Astraire a Jimmy Durante), porque o compositor não conseguiu encontrar uma rima para Zelig. Brilhante como crítica, hilariante como exercício de humor, Zelig ainda impressiona pelo tour-de-force técnico, já que o diretor, para contar sua história, maquia fotos e cinejornais para neles incluir o seu camaleão. Isso lhe permite, naturalmente, comentar o culto das imagens na sociedade contemporânea. Como o cinema é uma linguagem audiovisual, que usa a imagem mais o uso, Allen também está falando sobre o meio no qual trabalha, antecipando outra obra de gênio, A Rosa Púrpura do Cairo, uma das mais influentes dos anos 1980. Por lidar justamente com a imagem, Zelig poderia chamar-se Exteriores, como bem lembrou José Carlos Avellar, numa crítica memorável. Nesse sentido, é o oposto de Interiores, o filme em que o palhaço, tomando-se por Ingmar Bergman, quis mostrar, como numa peça de câmara, uma família dominada por uma mãe ressentida e na qual homens e mulheres são todos infelizes. Bergman, de novo, fornece a inspiração para Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão, uma pastoral baseada em Sorrisos de Uma Noite de Amor, contando a história da ciranda amorosa (e sexual) envolvendo três casais num fim de semana no campo, por volta de 1900. Allen sempre gostou de se definir como um filho da psicanálise. Analisou-se durante anos, seis vezes por semana. Essa verdadeira obsessão pela psicanálise está no centro de A Outra, na qual uma mulher que vive fugindo de compromissos e envolvimentos emocionais ouve, pelo tubo de ventilação do seu apartamento, o que outra mulher fala no divã do analista que atende ao lado. Angústia, cansaço existencial, hipocrisia, o conflito entre o ser e o ter: tudo nesse filme evoca Bergman, mas é Woody Allen. Um Woody Allen servido por duas atrizes fantásticas: Gena Rowlands e sua amada, na época, Mia Farrow. Serviço - Coleção Woody Allen. DVDs da Fox. Quatro títulos: Zelig, Interiores, Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão e A Outra. Em outubro, nas locadoras. Para venda em pacote ou separado

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