Outra diferença entre Gregory e Lewis era que um fazia humor adulto, que pressupunha um grau de informação e de empatia política no público, enquanto o outro era um não engajado, que só pretendia divertir crianças e adultos. Mas aí aconteceu uma coisa inesperada: a crítica de cinema francesa adotou Jerry Lewis. Para espanto dos americanos, os franceses descobriram nuances e mensagens críticas nos seus filmes que ninguém tinha visto antes, e Lewis ganhou uma respeitabilidade intelectual que ele mesmo deve ter estranhado. Desenvolveu-se uma teoria da “destruição do cenário”, uma constante na obra de Lewis, que os franceses adoraram. Diziam que o que o aloprado ia derrubando de tropeção em tropeção, nos seus filmes, da cabeleira da grã fina às colunas do salão, era o capitalismo americano atacado por dentro por um dos seus desajustados, num apocalipse cômico. Em nenhum filme de Jerry Lewis, falta alguma forma de apocalipse, mesmo que só franceses a vejam.
Gregory não foi o único “stand up” a falar de política e fazer crítica social. Gente como Mort Sahl e Lenny Bruce também fez. Mas Gregory foi o primeiro afro-americano a romper a barreira da discriminação e a se apresentar para públicos brancos, e seu sucesso não impediu que continuasse na luta pelos direitos civis fora dos palcos, sendo, inclusive, preso várias vezes por isso. Lewis não se engajou em política, a não ser indiretamente, na visão da crítica francesa. Engajou-se em campanhas filantrópicas, mas, se existe um céu dos humoristas, é difícil que os dois estejam conversando.