Quarentão, "O Beijo no Asfalto" volta aos palcos

Montagem produzida e estrelada por Marcelo Serrado de um mais populares textos de Nelson Rodrigues estréia em São Paulo, depois de premiada turnê pelo País

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Por Agencia Estado
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O Beijo no Asfalto, clássico de Nelson Rodriques, está completando 40 anos de sua primeira encenação. A peça, que trata dos riscos da má utilização na informação, estréia hoje na cidade, dirigido por Marcus Alvisi e produzido e estrelado por Marcelo Serrado, fã de carteirinha do dramaturgo desde a época em que fazia teatro no Tablado. "Quando assisti à montagem de Buza Ferraz, decidi que era aquilo que eu queria para a minha vida", diz Serrado. Serrado assistiu ao O Beijo no Asfalto pela primeira vez em 1983. Apaixonou-se. "Nunca tinha visto nada tão literal, profundo, maravilhoso." Começou, então, a alimentar o sonho de montar Nelson. "A oportunidade apareceu este ano e eu não poderia deixá-la escapar." O Beijo é a peça mais popular de Nelson. A linguagem coloquial, as frases curtas e o diálogo sincopante aproximam o texto do cotidiano dos espectadores. O espetáculo já passou por Brasília, Porto Alegre e Rio, em temporada de grande sucesso. No Rio, ganhou o Prêmio Qualidade Brasil, eleito pelo público como a melhor montagem na categoria drama. Turbilhão - A trama é simples. Um homem atropelado pede um beijo antes de morrer. Arandir, que estava passando pelo local do acidente, atende ao desejo do homem. A partir daí, vê sua vida entrar em um turbilhão. "Ele comete um ato de amor e é crucificado como Jesus Cristo", compara Serrado. O rapaz bom, símbolo da pureza, tem seu ato publicado num diário por um jornalista oportunista. Na máteria, a denúncia: um homem comete um ato de pederastia, beija na boca de outro homem. Arandir é acusado de homossexual, e até de assassino. "Até que chega uma hora em que Arandir começa a duvidar de si mesmo", conta o ator Rogério Fróes, sogro do personagem na peça. A trama envolve também arquétipos familiares. O sogro volta-se contra o genro, num ato que traduz o ciúmes que sente da filha, papel de Alessandra Negrini. Acuado, Arandir busca um porto seguro na mulher, mas ela o rejeita. Volta-se então para a cunhada, que o recebe de braços abertos. Quando estreou, o espetáculo causou grande impacto no público. Casais abandonavam a peça na hora em que o personagem de Alessandra, Selminha, defende a masculinidade de Arandir. Hoje, no entanto, as coisas mudaram. Nínguem mais sente-se agredido pelo texto. "As pessoas riem, se divertem", diz Fróes. Quando crescer eu... - Nelson Rodriguez sempre deu muito o que falar. Tanto pelo assunto quanto pela maneira de abordá-lo. Exercia um peculiar fascínio pela morte, uma constante em seus textos. Seu primeiro texto, escrito aos 13 anos, foi inspirado num funeral. Teve peças censuradas, recheou-as de palavrões. Dizia que o teatro não poderia ser como um bombom de licor, tinha de agredir a platéia. Mesmo após 21 anos de sua morte, frases inventadas pelo autor são proferidas. Prova disso é que até hoje ouve-se a máxima "a unanimidade é burra". À sobrevivência da obra deve-se o grande número de montagens das peças escritas por Nelson. "Sabe a vontade que todo ator inglês tem de fazer um Shakespeare? Eu sempre quis fazer Nelson", conta Alessandra, segundo Serrado, uma atriz totalmente rodriguiana. O Beijo no Asfato. Hoje, às 21h30; sáb., às 20 h e 21h30; dom., às 19 h. R$ 30 (6ª. e dom.) e R$ 35 (sáb.) Teatro Augusta (R. Augusta, 943, tel. (11) 3151-2464).

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