PUBLICIDADE

Quando as belas viraram feras

Cerca de 30 modelos fizeram uma manifestação na entrada dos desfiles da Semana de Moda, contra o monopólio das grandes agências. A polícia entrou em ação atirando bombas de gás de

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi um belo protesto, pelo menos no quesito manifestantes. Aos gritos de "queremos trabalhar", pouco mais de 30 jovens modelos, entre garotas magrinhas e rapazes sarados, fizeram a maior algazarra na entrada dos desfiles da Semana de Moda, na noite de segunda. A manifestação foi protagonizada por integrantes das pequenas agências Click e Sucess contra um suposto monopólio da Abamm (Associação Brasileira de Manequins e Modelos). "Quem não faz parte das agências deles não pode desfilar", disse uma new face da Click, que preferiu não se identificar - para não queimar o filme de vez. O tititi atraiu policiais de uma delegacia próxima aos galpões onde se realiza o evento. Sentados na entrada de carros, os modelos partiram para a baixaria e começaram a xingar o organizador da Semana, André Hidalgo, mais precisamente a mãe do moço. "Quando a polícia chegou, eu disse que eles tinham todo direito de se manifestar. Só queria que não atrapalhassem a entrada do público e parassem de me ofender", diz Hidalgo. Um policial avisou: "Tenho cinco bombas lá no carro". Os meninos debocharam e acabaram desacatando os policiais. Resultado: gás de pimenta em cima dos bonitões e todo mundo na delegacia. "Achei chato para eles, que vieram aqui e fizeram a maior baixaria. Só mostraram o nível que têm." Casting é caro - A ausência de profissionais de agências nanicas na Semana de Moda tem uma razão de ser: André Hidalgo fechou um patrocínio com a Abamm , associação da qual fazem parte as agências Next, Mega, Elite, Ford, L´Equipe, DRM, IMG e Marilyn. "Como patrocinadora, a Abamm tem direito à exclusividade", explica o organizador. Segundo ele, normalmente é dada uma carta de crédito e cada estilista contrata os modelos que bem entender. Desta vez, no entanto, a verba estava curta e a saída foi fechar um pacote de patrocínio com a Associação. "Isoladamente, o casting é o item mais caro do orçamento", revela Hidalgo. Na São Paulo Fashion Week o caso é outro. Lá, os estilistas recebem carta de crédito da organização e contratam o casting livremente. No entanto, os participantes receberam um comunicado da Abamm no qual é sugerida uma parceria entre o evento e a associação, mencionando que "caso algum estilista procure uma agência que não esteja filiada, os associados da Abamm se sentirão à vontade para retirar o seu casting dos desfiles". A organização se apressou em deixar claro que não tem nenhuma parceria com a Abamm neste sentido, que é contra qualquer tipo de coação, restrição ou discriminação dentro ou fora do evento e que não concorda com atitudes que incentivem a reserva de mercado. Arapucas - Eli Hadid, da agência Mega e um dos mentores da Abamm, esclarece: "Não somos um cartel e não queremos tirar ninguém do mercado. Vamos ter uma reunião nesta quarta-feira para definir como ficarão as coisas na SPFW, mas nunca vamos prejudicar o evento, que sempre foi nosso grande parceiro." Segundo ele, a Abamm é uma associação aberta, que pretende agregar todas as agências sérias do mercado. "O que nós queremos é evitar aventureiros". Ele compara a Abamm à OAB: "Você contrataria um advogado sem OAB? Não, até porque ele não estará apto a exercer sua profissão. É isso que queremos, que as pessoas sérias do mercado só contratem as empresas da Abamm, pois ali encontrarão profissionais gabaritados." A preocupação da Abamm, segundo Hadid, é com as arapucas. "Tem agência por aí que é de médico. De onde veio esse cara, quantos anos tem de mercado, qual o interesse em ter uma agência? Quem mostrar que é sério será admitido na Abamm sem o menor problema", avisa. O que se comenta no mercado da moda, no entanto, não é exatamente isso. Alguns profissionais do setor afirmam que a Abamm não aceita as agências pequenas como sócias. "Eles são um gueto, sim, e têm as portas fechadas para as agências menores", disseram ontem algumas pessoas ligadas ao setor. A Associação pretende avalizar o que é agência séria ou não é. Para fazer parte do grupo, o que vale é o currículo da empresa, e ela será aprovada por todos os outros integrantes. "Vi aquela manifestação de negros na SPFW de junho e achei justa, eles protestavam por mais espaço no mercado de moda. Agora, o que esse pessoal que faz chacrinha na porta de evento quer?", pergunta Hadid. Para ele, não importa o tamanho da agência para fazer parte associação, mas os donos das pequenas, em vez de se aliarem à Abamm, preferem fazer barulho. "São uns covardes, que usam adolescentes para protestar. Não queremos impedir ninguém de trabalhar, apenas não queremos deixar esses jovens nas mãos de aventureiros".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.