Puro jazz embala última noite do Chivas Festival

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Por Agencia Estado
Atualização:

A última noite do Chivas Jazz festival foi sem dúvida a mais equilibrada e marcante de todo o festival. O motivo é simples. As três atrações tocaram jazz, no sentido mais puro. Sorte da platéia paulistana que lotou o Directv Music Hall, neste sábado, em São Paulo. A noite começou com a pianista belga Nathalie Lories, que é desconhecida para quase todo o público presente. Nathalie fez um show discreto e curto. Acompanhada por bateria e baixo, a pianista mostrou uma técnica apurada e muita personalidade. Fã confessa dos pianistas Bill Evans e McCoy Tyner, Nathalie foi uma boa surpresa e um aperitivo para o que ainda estava por vir. A segunda atração, apesar de também ser pouco conhecido por aqui, foi apresentada como um dos músicos europeus de maior influência da atualidade. O trompetista italiano Paolo Fresu foi a grande ?descoberta? do evento. Com seu jeito carismático, ele conseguiu conquistar o público com um som que caminhou entre o jazz tradicional e o fusion. Esta mistura, muito bem dividida no espetáculo, fez a platéia vibrar e pedir bis. Fresu foi acompanhado por um quarteto afinado. Destaque para Tino Tracanna (sax) e Ettore Fioravanti (bateria). O italiano tocou quase todo o show com o trompete flugelhorn, mesclando às vezes o trompete tradicional. A mistura do moderno com o antigo deixou ainda mais clara a influencia de Miles Davis na formação do músico. Fresu fez um show sem espaços, isto é, não houve erros ou tempo para o público respirar. Seus duetos com Tracanna, no sax, fez muita gente querer voltar no tempo para poder ver Miles e Coltrane ao vivo. O trompetista, mesmo com o público na mão, ainda teve a simpatia de incluir a música Luiza, de Tom Jobim, no repertório. Isso foi o ?golpe? certeiro para deixar a platéia sem palavras. O terceiro e último a entra no palco foi o saxofonista americano Dewey Redman, que também é conhecido como o pai do saxofonista Joshua Redman. Mesmo sendo uma lenda do jazz, Redman participa pouco de festivais, já que é pouco requisitado. Isso não é problema para o setentão texano que teve no palco a companhia de três músicos brilhantes: Matt Wilson (bateria), John Menegon (baixo) e a pianista italiana Rita Marcotulli, que arrebatou a platéia com sua delicadeza e seus improvisos de tirar o fôlego. Redman começou tímido, mas logo depois atacou com um clássico na voz de Nat King Cole, The Very Thought Of You, em um momento antológico. É interessante salientar a humildade do saxofonista que já tocou com Keith Jarrett e Ornette Coleman. Em todas as músicas, após o seu solo, Redman ficava ?escondido? no palco e deixava o seu trio reinar absoluto no Directv. Sorte da platéia que teve a chance de escutar os solos da italiana e o ritmo de Wilson. Depois de se sentir ambientado, o músico atacou com um blues que levantou a platéia. Muito bonachão, Redman tentou um intercâmbio maior com o público, que correspondeu com muito calor e entusiasmo. A noite parecia completa quando Redman e o seu trio resolveram fechar o show com uma das composições mais brilhantes do século 20, nada menos que Take The ?A? Train, de Duke Ellington e Billy Strayhorn. Foi o melhor final que o Chivas Jazz Festival, na sua terceira edição, poderia ter tido. Depois de quatro dias de maratona jazzística, o festival provou mais uma vez sua vocação vanguardista.

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