Psicólogos analisam fenômeno dos reality shows

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Por Agencia Estado
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O mundo caiu de joelhos diante dos reality shows. Programas como Big Brother proliferam em todo o mundo, ganham novas edições - vide Casa dos Artistas 2 - e atraem cada vez mais a audiência, o que faz a alegria das emissoras. Diante do fenômeno algumas questões ficam no ar e provocam polêmica mundial: o que leva um ser humano a invadir a privacidade de outros? Qual o impacto desses programas, principalmente no que diz respeito aos valores agregados às crianças e aos adolescentes? "Não podemos nos esquecer que uma emissora de televisão é uma empresa, que visa ao lucro. Os jogos, que atribuem ser parte da vida real, são apenas mais um aspecto diante da péssima qualidade da programação da televisão", observa o psicólogo Herbert Thomas Luckmann. "Programas como do Ratinho e de João Kléber são tão sérios e precisam de fato serem debatidos claramente com os jovens. É importante formar uma consciência crítica, para isso devemos ouvi-los, propor perguntas, estimular o debate." Para o psicanalista Jorge Forbes esse fenômeno que assola as grades de TV de todo o mundo pode ser justificado pela perda de referências. "Com a globalização, as pessoas não sabem como agir, não têm claro um padrão de comportamento, perderam os limites o que gerou uma crise de identidade", afirma. "As pessoas querem ver como as pessoas se viram na vida diante de uma série de adversidades." Para Forbes, a sociedade vive um momento que pode ser dividido pela busca da sobrevivência e da convivência. Em programas como No Limite ou Survivor o que fica claro é a luta contra a morte. Já em Casa dos Artistas ou Big Brother tudo gira em torno da sexualidade. Com o propósito de atrair um público cada vez maior, as emissoras nivelam de maneira simplória sua programação. "O nível dos programas é muito baixo. Não só pela ausência de informações como pelos conceitos que transmitem aos jovens. Dois aspectos chamam a atenção e procuramos trabalhar com os alunos: a competição desleal e a exclusão", conta a coordenadora pedagógica do Colégio Santa Maria, Tiyomi Misawa. De acordo com Tiyomi, a repercussão é grande entre os alunos do ensino fundamental. "Fizemos uma pesquisa e 90% dos estudantes acompanham o programa, então vimos a necessidade de falar sobre cooperação, responsabilidade e respeito ao outro." "Os pais precisam ter consciência que a educação vem de casa. É necessário conversar e discutir assuntos atuais. Os adolescentes procuram modelos para seguirem, é uma fase delicada por essa razão o olhar crítico, que vem da família, é um filtro para olhar o mundo", explica a professora da faculdade de psicologia da USP Maria Abgail de Souza. A França pode ser vista como modelo de resistência. Os intelectuais travaram verdadeira cruzada contra o voyeurismo na TV. O Conselho Superior do Audiovisual, universitários e jornais protestaram e sugeriram programas com a participação de artistas e escritores. Em Londres, a BBC aposta em políticos. "Acredito que algumas medidas precisam ser tomadas em relação à programação. Uma pessoa sem privacidade enlouquece. Sou a favor da estrutura francesa, de programas inteligentes", opina Forbes.

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