Projeto oferece hospedagem para profissionais de saúde ficarem em isolamento durante pandemia

Até agora, dez pessoas estão alojadas em apartamentos alugados, mas 180 estão a espera de uma oportunidade; saiba como ajudar

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Por Camila Tuchlinski
Atualização:
Cuidado. Para proteger a família, o médico Camillo Barbieri Neto não vai para casa. Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Voltar para casa todos os dias e não ter a certeza se está infectado ou se poderá contaminar um ente querido é uma situação angustiante para os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus. Além disso, há o risco de contágio no transporte público no trajeto para o trabalho. 

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Pensando em aliviar a situação para médicos e enfermeiros que combatem a covid-19, a publicitária Camila Putignani decidiu unir os colegas de trabalho. Ela é CEO da Mill Ideas, empresa de comunicação e marketing, que atua em São Paulo, mas que estava com os negócios paralisados desde o início da pandemia. “Eu provoquei o pessoal. Não poderíamos ficar parados. Aí, surgiu o projeto Isolar”, conta. 

A ideia foi colocar a expertise da empresa em planejamento e operações à disposição de marcas e da sociedade civil para oferecer moradias temporárias individuais, com toda a estrutura necessária, a profissionais que estão na linha de frente, expostos aos riscos de contaminação, e que devem manter uma distância segura de seus familiares neste momento - enfermeiros, recepcionistas, socorristas, equipes de limpeza e manutenção, seguranças, médicos e demais trabalhadores e prestadores de serviços de unidades de saúde diretamente envolvidas no atendimento e tratamento da covid-19

O médico Camillo Barbieri Neto, de 42 anos, trabalha na sala de emergência do Hospital Albert Sabin, em São Paulo. “Está sendo pesado, cansativo física e mentalmente, mas acredito que a gente pode fazer o bem para todo mundo”, relata ele, sobre a sensação de estar na linha de frente no combate à doença. Seu pai, também médico, ficou um mês entubado, na UTI, por causa da covid-19. 

Para a enfermeira Mariana Goulart Rohrbacher, de 36 anos, supervisora de enfermagem no Hospital Municipal de Emergências em São Caetano, na Grande São Paulo, a rotina também está difícil. “A gente faz sempre com muito carinho, porque é o que a gente ama fazer, mas com muito medo do que pode vir e do que a gente ainda vai passar”, desabafa.

Cansaço. A enfermeira Mariana Goulart aponta rotina difícil devido às longas jornada. Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

“Esses profissionais vêm enfrentando uma longa jornada de trabalho e muitos estão com medo de voltar para suas casas e contaminar seus familiares, ou até mesmo sofrer hostilização popular em transportes públicos, o que vem acontecendo”, afirma Camila Putignani. 

A enfermeira Mariana Goulart Rohrbacher, que é uma das hóspedes, está aliviada por garantir, de certa forma, a saúde da família. “O ponto positivo é preservar a saúde de pessoas queridas e que estão no grupo de risco que moram comigo, no caso a minha mãe, e meu filho, que é um vetor. O ponto negativo é estar longe deles, mas neste momento acredito que seja um ato de amor”, concluiu. O médico Camillo Barbieri Neto concorda: “O bom é poder cuidar da família e vizinhos para não ter nenhum tipo de contaminação e um ponto ruim é ficar longe da família. Mas é o preço que a gente tem que pagar pensando no bem deles”, diz.

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Por enquanto, os agentes de saúde estão sendo hospedados em apartamentos de aluguéis temporários, como Airbnb ou através de imobiliárias. “O Projeto Isolar já acomodou 10 profissionais da saúde, porém, temos mais de 180 cadastrados à espera do acolhimento. A demanda existe, só faltam recursos para atender a todos”, ressalta a publicitária. 

Os profissionais de saúde interessados devem se cadastrar no site do Projeto Isolar. A equipe recebe as informações e checa se o candidato cumpre os requisitos para entrar na fila de espera. 

Para viabilizar os primeiros acolhimentos, a Mill Ideas fez um aporte inicial de R$ 50 mil, além de disponibilizar dezenas de profissionais integralmente dedicados à operação. A partir daí, a empresa passou a arrecadar doações por meio de uma plataforma de financiamento coletivo e pelo site e tem buscado parcerias com a iniciativa privada, clientes da agência ou não, para que empresas possam abraçar a causa e financiar total ou parcialmente o projeto. As companhias interessadas em participar precisam enviar um e-mail para o endereço eletrônico: contato@projetoisolar.com.br.

Proteção. Camila Putignani, idealizadora do projeto: isolamento aos trabalhadores da saúde. Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Governos de Estados e prefeituras se associam a hotéis para oferecer leitos a quem trabalha no combate à covid-19

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Alguns hotéis espalhados pelo Brasil estão oferecendo hospedagem gratuita para profissionais de saúde, em uma parceria com governos dos Estados ou prefeituras. É o caso da cidade de Santos, no litoral paulista. Para resguardar os familiares de um eventual contágio, eles poderão se hospedar em um dos 90 leitos do hotel Monte Serrat. A hospedagem inclui alimentação, com café da manhã, almoço, lanche e jantar, e serão custeados pela Secretaria de Saúde de Santos. 

O subsecretário estadual de Assistência em Saúde do Espírito Santo, Fabiano Ribeiro, afirma que o governo pretende providenciar hospedagem para trabalhadores que atuam diretamente no combate à covid-19. A Secretaria Estadual de Saúde contabiliza mais de 500 confirmações do novo coronavírus em profissionais da área. 

Na capital paulista, o grupo OYO Hotels & Homes reservou alguns quartos para médicos e enfermeiros, que poderão se hospedar gratuitamente durante a pandemia. Os lugares ficam em um raio de até cinco quilômetros de distância de hospitais públicos e particulares. Quem tiver interesse precisa fazer um cadastro e comprovar filiação a um conselho regional, como os de medicina ou enfermagem, por exemplo. O call center da empresa está à disposição para dúvidas dos profissionais de saúde, no número 0800-696-7000.

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