
26 de julho de 2010 | 00h00
Os textos, um deles significativamente intitulado O Fim da Realidade, receberam na montagem paulistana um extremado tratamento anti- ilusionista e antipsicologizante. Estamos diante de metáforas visuais que evitam até o encanto dos rostos humanos ao vivo, os olhares. Dispensam a poderosa máscara dramática da atriz Juliana Galdino, usando mais sua maestria vocal, o que também acontece com os demais bons intérpretes. As cenas são em negativo, escuras e emolduras por claridade lateral ou de fundo. Caso se busque referência externa se chegará à pintura surrealista ou aos quadros de Hooper e, muito, às histórias em quadrinhos. O Club Noir leva seu nome ao limite no projeto estético que privilegia o exercício de estilo. O conteúdo da obra, nesse caso, passa ao segundo plano diante da forma, quando o público precisa decifrar contornos na obscuridade do palco.
Recortes com vozes. Pode-se argumentar que é, exatamente, um meio de se reforçar um texto, mas ele se esfria em jogos verbais sincopados, sem nuances, enigmáticos, mas previsíveis a partir de determinado momento. Instaura-se assim a primazia do game eletrônico ou graphic novel. Geometria humana com falas brancas, gritos súbitos e apagões da cena. Em seguida, tudo recomeça. O elenco tem impecável domínio da verbalização que vai da linearidade do canto gregoriano aos estampidos verbais. É engenhoso, tem maestria, mas o abstrato perde o mistério presente, por exemplo, na aridez de Beckett ou Kafka. A engrenagem cênica substitui a dimensão metafísica e política. A encenação se sobrepõe ao "pesadelo refrigerado", expressão do escritor Henry Miller ao reencontrar a América depois de anos de Europa. É contraditório porque temos o espetáculo sólido, mas não o que o programa de Tríptico oferece como "aspectos terríveis da contemporaneidade" com "personagens e situações que, em tons monótonos e inabaláveis desdramatizam e desconstroem nossa suposta normalidade, expondo claustrofóbicos mecanismos sociais de controle". Esses elementos estão parcialmente em cena, mas sem provocar uma revelação maior. Talvez valha a pena tomar cuidado com a monotonia de Maxwell ou de qualquer outro. Mesmo assim, algo vibra internamente no espetáculo. As inquietações de Roberto Alvim, Juliana Galdino e companheiros insinuam que estão atrás de "estranha beleza" para desequilibrar o teatro previsível. Não custa sonhar que ela venha com mais claridade. Nos seus cinco anos, o Club Noir tem caminhado em meio às tentações da vanguarda como mera atitude. Vale a pena acompanhá-lo.
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