Projeto cataloga toda a HQ do Brasil

Professores e alunos da USP estão organizando um arquivo completo dos quadrinhos nacionais e estrangeiros publicados no país desde a pioneira revista Tico-Tico, de 1905

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Por Agencia Estado
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O que para muitos pode significar coisa de criança, para um professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP) é fonte permanente de estudo: as histórias em quadrinhos. Coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (NPHQ) na USP, Waldomiro Vergueiro, professor da Faculdade de Biblioteconomia, quer instituir o Diretório Geral de HQs no Brasil. Para tanto, vai dar início, em parceria com professores e alunos, a um projeto de organização e disponibilização de todos os títulos de quadrinhos já publicados, nacionais ou traduzidos para o português. Até agora, o núcleo tem uma base de 270 títulos catalogados. A previsão é de que, quando o NPHQ chegar a 400 títulos, o conteúdo já possa ser pesquisado na Internet, ainda no segundo semestre. O passo seguinte será partir para materiais reunidos em gibitecas e acervos pessoais de colecionadores. O próprio professor possui uma expressiva coleção, com pelo menos 15 mil revistas. "A princípio, vamos fazer um levantamento de títulos, para depois registrarmos autores e desenhistas", explica Vergueiro. O banco de dados concentrará informações desde 1905, quando foi publicada a primeira edição da revista Tico-Tico. O exemplar serve de referência por ser considerado pioneiro na linha de HQs. "O Tico-Tico foi muito popular, baseado no modelo europeu de revistas para crianças. Tinha quadrinhos, histórias infantis, contos, curiosidades, desenhos." Antes do lançamento da revista, o Brasil já "flertava" com os comics por meio de sua imprensa humorística. Segundo o coordenador do NPHQ, chegou a ser editado em São Paulo um jornal chamado Diabo Coxo, o primeiro ilustrado no País, feito pelo italiano Angelo Agostini. A carreira de Agostini foi pontuada por passagens em diversos jornais brasileiros, no Império e no período republicano. "Agostini tinha um traçado que se assemelhava muito com o das HQs e, por isso, vários autores o consideram precursor do gênero", explica. "Inclusive o logotipo da Tico-Tico foi criado por ele." Na década de 30, houve a publicação de um suplemento juvenil nos moldes norte-americanos, no jornal A Nação. Algum tempo depois, passou a ser vendido separadamente, diante do sucesso que fazia entre as crianças. Suas páginas esboçavam as aventuras de super-heróis, como Flash Gordon e Mandrake. As editoras Globo Juvenil, Ebal e Abril tiveram papel importante no fortalecimento da indústria de quadrinhos no Brasil. Popularidade - Na linha de nacionais, os gibis de Mauricio de Sousa são imbatíveis no quesito popularidade. Mauricio de Sousa idealizou seu primeiro personagem, o Bidu, em 1959, mas a revista Mônica só surgiu mesmo na década de 70. "São histórias que são muito próximas das crianças brasileiras", analisa Vergueiro. Nos anos 90, foi a vez dos anti-heróis, criaturas violentas, com vícios, imperfeitas, no estilo de Wolverine, dos X-Men e O Justiceiro. Na mesma década, surgiram os mangás, comics japoneses que fazem sucesso no mundo todo. Com a nova tendência, chegou a febre Pokémon, Dragon Ball e tantos outros, cujos quadrinhos deram origem a desenhos animados - e vice-versa. Hoje, o perfil predominante do leitor de HQs é o jovem, do sexo masculino, entre 13 e 25 anos, que encontra nos super-heróis uma espécie de válvula de escape, para extravasar sua agressividade. Para o professor, falta no Brasil um registro preciso desse material histórico, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos e na Europa. "O crescente interesse por quadrinhos nas universidades me surpreende cada vez mais. Recebo uma média de cinco a dez e-mails por mês de estudantes que querem desenvolver trabalhos relacionados ao assunto, mas não encontram orientadores nem material de pesquisa." Fundado em 1990, o NPHQ promove reuniões mensais, nas quais são discutidos textos de comics, atraindo uma média de 20 pessoas. Há ainda grupos de debates virtuais, aberto a qualquer interessado, por meio do e-mail agaque-l@listas.usp.br. Outras informações podem ser obtidas no site www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca.

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