Vivemos, há anos, outra privação, talvez não tão pungente: o Brasil jamais ganhou um Nobel de Literatura. Portugal já ganhou, com o Saramago, mas o Brasil nunca. E tivemos bons candidatos ao prêmio. Faça a sua própria lista. A minha incluiria Guimarães Rosa, entre outros romancistas. Clarice Lispector, por que não? Para ficar só nos poetas, Manuel Bandeira, João Cabral e, talvez o mais merecedor de todos, Carlos Drummond de Andrade. Mas a Academia Sueca nunca olhou para cá. Seus critérios são misteriosos. Dizem que o júri para o prêmio de literatura se reúne só uma vez, bota os nomes dos escritores mais obscuros de que podem se lembrar dentro de um chapéu e o nome que sair será o escolhido. Exagero ressentido, claro. Às vezes, o premiado é conhecido por mais de dezessete pessoas, às vezes merece o prêmio mesmo sem ser conhecido. Mas o fato é que Tolstoi, Marcel Proust, James Joyce, Virginia Woolf, Jorge Luis Borges, Vladimir Nabokov e muitos outros nunca foram lembrados.
A academia sueca tende para um certo exibicionismo nas suas escolhas surpreendentes. Agora, se superou. Deu o prêmio de literatura a um compositor. Nada contra. Bob Dylan é um belo poeta, embora eu ache que Bruce Springsteen faz o mesmo trabalho com mais pegada. (Confesso que nunca gostei muito da voz fanhosa do Dylan, o que, claro, prejudicou a apreciação das suas letras). E, se a academia sueca está anunciando um precedente ao premiar letras de músicas como literatura, crescem as chances do Brasil, finalmente, ganhar um Nobel. Temos Chico Buarque e Caetano Veloso e alguns outros poetas musicais. Ponham o nome deles no chapéu.