Princesa das telas

Naomi Watts conta que viver Diana em filme que estreia sexta foi maior desafio da carreira

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Por Pedro Caiado/ LONDRES
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"Eu pedi permissão a Diana para interpretá-la no cinema, E ela me concedeu." A afirmação é da atriz Naomi Watts, de 44 anos, em entrevista ao Estado no intervalo das filmagens de Diana, filme do cineasta Oliver Hirschbiegel que narra os últimos dois anos da vida da princesa e estreia na sexta no Brasil. "Eu sei que não vai fazer sentido quando essa afirmação for impressa, mas é verdade", disse a atriz sobre os sonhos que teve com a chamada Princesa do Povo. O filme, baseado na peça Diana: Her Last Love, de Stephen Jeffreys, retrata a história de amor, pouco conhecida, entre Diana e o cirurgião cardíaco paquistanês Dr. Hasnat Khan em seus últimos anos de vida, e foi duramente criticado na Europa, onde foi acusado de inventar histórias. Na entrevista, Naomi Watts diz que teve muitas dúvidas sobre se aceitava ou não o papel - e que sentiu a presença de Lady Di enquanto se preparava. "De certa forma, esse foi o papel mais desafiador que já fiz em minha carreira, afinal tive que interpretar a mulher mais famosa dos nossos tempos." A estreia de Diana, de Oliver Hirschbiegel, na Europa, em setembro, foi cercada de polêmicas. Se não bastasse a opção do diretor de levar às telas a história do romance secreto da princesa com o cirurgião paquistanês Hasnat Khan, o mal-estar provocado pela colocação de cartazes do filme nas proximidades da ponte de I’Alma, na capital francesa, onde há 16 anos faleceu a ex-esposa do príncipe Charles, deram publicidade negativa à produção. Mas, para a atriz Naomi Watts, o filme pode ajudar as pessoas a mudar a percepção que tinham de Diana – ao menos, foi o que aconteceu com ela. “Através dos jornais, ela parecia alguém muito distante. Mas, durante minha pesquisa, eu aprendi que ela era uma mulher que lutava por felicidade”, diz, na entrevista a seguir.Como foi o processo de preparação para viver Diana?Eu fiz muita pesquisa, talvez a maior da minha carreira. Foram vários documentários, livros e tantas informações que ficou difícil de me concentrar. A entrevista com o (jornalista britânico) Bashir foi a mais importante. Eu a ouvi várias vezes enquanto corria no parque. Eu também conheci pessoas que a conheciam, e muito do que elas falaram confirmou o que estávamos fazendo. Esse foi o papel mais desafiador que já fiz, interpretar a mulher mais famosa dos nossos tempos. É muito intimidador se apoderar de um personagem de quem todo mundo se sente tão próximo. Sobre a linguagem corporal de Diana, como foi recriá-la? Eu acho que o principal era o rosto. Ela tinha aquele sorriso de lado, que todos nós lembramos. O andar dela era forte e muito atlético. Obviamente, na realidade, somos muito diferentes. Eu sou muito menor que ela, mas é algo que não importa no filme. Eu uso uma prótese no nariz e tive de trabalhar a voz. Eu fiz seis semanas de preparação da voz na Inglaterra, enquanto eu filmava outro longa. A primeira vez que eu me olhei no espelho, foi bom, melhor do que eu pensava que seria, mas eu fiquei muito nervosa. Quando as pessoas falam que eu não pareço em nada com ela e me criticam por ter sido escolhida para o papel, é assustador.Quando falei com Meryl Streep (de Dama de Ferro), ela contou que gostava de se manter no personagem entre as filmagens. Você fez o mesmo?Não, sou mais instintiva. Eu não sei como faz a Meryl, mas alguns dos meus atores favoritos como Daniel Day Lewis se mantém no personagem. Entretanto, eu preciso ter uma maneira de escapar, caso contrário eu enlouqueceria. Nesse caso, houve momentos em que eu gostei de me manter no papel de Diana, mas em outros, eu precisei desesperadamente fugir dele.É verdade que você sonhou com a princesa?Sim. Eu sonhei com ela, mas não foi sempre. Eu lembro de estar passeando com ela e de um momento específico, no qual pedi permissão para interpretá-la e ela me concedeu. Eu sei que no papel não vai fazer sentido, então melhor não explorar isso.O que acha do nível de atenção e fama que Diana tinha?Eu tive uma pequena experiência com fama, mas eu geralmente não sou reconhecida nas ruas. Eu posso andar sem ser incomodada. Às vezes, um fotógrafo anuncia quem é, e as pessoas se perguntam quem eu sou. Mas não imagino ter de enfrentar o que Diana passou no dia a dia, é algo imaginável – ela tinha que planejar a vida a cada segundo. Seria exaustivo.Você tem uma perspectiva diferente da sua própria fama agora?Sim. Às vezes há pessoas circulando o meu apartamento para tirar fotos e isso é irritante. Geralmente, não são agressivos, mas há dias em que são. Ontem à noite eu estava indo jantar e havia vários fotógrafos. Eu não conseguia ver nada além dos flashes, então tive que abaixar a cabeça e tentar passar até que um deles disse: “Olha para a gente, não somos tão feios”. Olhei, meio desconcertada, e foi assim que eles conseguiram a foto. Essa experiência pode ser desconfortável, mas não é a minha realidade de todo dia. Eu não imagino como tolerar isso, é algo que te deixa ansioso a todo instante. Não poder ter espontaneidade na sua vida é algo paralisador. E o preço desse nível de fama é a solidão. É uma existência que me dá medo.O filme fala que é fácil dar amor, mas é difícil recebê-lo. Você concorda?Consigo me identificar com essa afirmação, especialmente se você passa por algo parecido. Os pais dela se divorciaram bem cedo e ela foi separada da mãe. Eu acho que o resultado é uma sensação de abandono e fica difícil confiar no amor.Os seus pais também se separaram quando você era jovem e, como Diana, você não terminou a escola. Essas semelhanças a ajudaram a vivê-la?Sim, eu não terminei a escola – eu provavelmente não era uma boa aluna. Quando você interpreta qualquer personagem, você procura maneiras de se relacionar com ele e ter empatia. Estas duas razões são algumas das que encontrei, com certeza.Você teve sonhos de ser a Diana quando era criança?Não. Eu era mais ligada aos meninos, pois tinha um irmão mais velho. Eu tenho certeza de que tinha vestidos cor-de-rosa, mas eu não tinha bonecas Barbie ou nada parecido com elas; Eu brincava com os soldados do meu irmão.Você gostava das roupas que ela usava?Sim. Mas, olhando para trás, preciso reconhecer que ele fez algumas escolhas esquisitas. Eu acho que mais para o fim ela começou a ter mais senso de estilo, o que faz sentido, pois ela já estava com trinta e poucos anos. É quando você se conhece melhor e o seu estilo reflete isso naturalmente. Eu também usei alguns dos vestidos dela no filme, e fiquei surpresa ao perceber como eram curtos, pois eu sou mais baixa que ela. Foi bem esquisito.Sua percepção da Princesa Diana mudou?Sim. Eu descobri novas coisas sobre ela. Através dos jornais ela parecia alguém muito distante. Mas, durante minha pesquisa, eu aprendi que ela era uma mulher que lutava por felicidade. Eu não sabia nada sobre essa história de amor com o Dr. Hasnat, e foi algo interessante. E me surpreendi com seu ótimo senso de humor. Ela também gostava de flertar bastante. Ela era inteligente e tinha um lado rebelde.Você se lembra onde estava quando ela faleceu?Sim, lembro muito bem. Eu estava filmando no Canadá, provavelmente um filme ruim para TV, jantando com um grupo de amigos até que alguém nos deu a noticia da morte dela. Eu lembro de ficar completamente chocada e triste. 

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