PUBLICIDADE

Primeiro capítulo de "Esperança" fica aquém do padrão

Estréia, na segunda-feira, não alcançou a qualidade de Rei do Gado e Terra Nostra, mas isso pode pelo menos significar um desnível menor em relação ao que será visto daqui para a frente

Por Agencia Estado
Atualização:

Para uma dupla que realizou Renascer (1993) e O Rei do Gado (1997) - falamos aqui do autor Benedito Ruy Barbosa e do diretor Luiz Fernando Carvalho - o primeiro capítulo de Esperança ficou, com perdão do trocadilho, aquém do esperado. Não fossem essas duas novelas do passado, cujos primeiros capítulos estão entre as mais belas produções da TV, a estréia de segunda-feira teria sido até que boa. Carvalho pode mais que isso, é verdade, mas convém combinar perfeccionismo ao ritmo industrial da TV. É um casamento quase inviável. Em Os Maias, o diretor tanto refez gravações, edições e sonorização, que acabou perdendo a hora: não conseguiu editar o primeiro capítulo em tempo, obrigando a Globo a exibir apenas 20 minutos de programa no dia da estréia. A redução forçada comprometeu toda a série, com prejuízos maiores para a audiência da primeira semana. Sim, por falar em audiência, o primeiro capítulo de Esperança respondeu com 47 pontos de média na Grande São Paulo (2,209 milhões de domicílios), exatamente o mesmo resultado do primeiro capítulo de sua antecessora, O Clone. E que alívio ligar a TV e já não ouvir mais "sobre as nossas cabeças o Sol, sobre as nossas cabeças a Lua...", ou "somente por amooor...". A trilha sonora da vez é muito mais convidativa e, por que não dizer, educativa. Só o rigor de Genaro, personagem de Raul Cortez, ao atribuir a qualquer música que não seja erudita a classificação de "cançoneta estúpida" já vale um merchandising social para os ouvidos do público. Os italianos, de novo - É bom que Ruy Barbosa tenha se esmerado em responder, em todas as entrevistas, que Esperança não é uma continuação de Terra Nostra, que a novela é outra, que além de imigrantes italianos ele contará também a história de imigrantes espanhóis, de judeus de todas as partes, etc., etc. Era necessário avisar que outros povos virão nos próximos capítulos, ou então, estaríamos todos aguardando pelo aparecimento, a qualquer momento, dos netos de Giuliana e Matteo. O autor só não tinha por que se eximir de repetir o sotaque italiano - se Manoel Carlos sempre conta uma história que se passa no bairro do Leblon e Aguinaldo Silva até brinca com a repetição de suas cidades fictícias com prostíbulo-igreja-prefeitura-delegacia, que mal há nos italianos de Benedito Ruy Barbosa? A época é outra, mas os amores impossíveis são eternos. De novo, o mocinho quer fazer a América e escolhe o Brasil como destino. A diferença é que, desta vez, ele conhece a moça na Itália, não no navio, e a fuga é alternativa para escapar do pai da mocinha, o fascista Giuliano (Antônio Fagundes). Na ânsia de falar à massa, sobram cenas de ensino público. É que não basta que Raul Cortez acuse o personagem de Fagundes de fascista. É preciso mostrar Giuliano hipnotizado pelo rádio, diante da transmissão de um inflamado discurso de Mussolini, "il Duce". Repare na graça: O Clone tinha a preocupação de explicar a genética que poderá permitir, no futuro, a clonagem de um ser humano. Agora, tamanho é o descrédito de que o povo conheça História, que a novela se consome em explicações sobre um passado mais que sacramentado. Melhor assim. Nessa mesma linha, e sem cair na armadilha do didatismo, Walmor Chagas conta ao sobrinho que não se deu bem na vida com o anarquismo. Quando percebeu que isso não o levaria a nada, virou comunista. E a essa altura é um comunista tuberculoso, sem serventia alguma. Walmor conduziu as melhores seqüências do capítulo. Pena que o personagem já tenha data marcada para sair de cena - sua morte está prevista para ir ao ar na quinta-feira. E Raul Cortez, que felicidade a de interpretar um terceiro italiano em novela de Benedito Ruy Barbosa. Vê-lo em um só capítulo foi suficiente para saber que Genaro nada tem de Francesco (Terra Nostra) ou de Berdinazzi (O Rei do Gado). Pena que haja tanta precisão pelo sotaque de uns e tanto descaso pelo de outros. Por que Lúcia Veríssimo fala "carioquês"? Seria um papel de herança portuguesa? Mas o filho da personagem fala "paulistês", ué! O casal de protagonistas não é uma tragédia, mas está em maus lençóis. Reynaldo Gianecchini e Priscila Fantim estão longe da categoria Luciano Szafir. De qualquer modo, ambos têm um desempenho ainda muito modesto para não saírem arranhados depois de contracenar com Fernanda Montenegro, Cortez, Walmor e Eva Wilma. Fotografia - Finalmente, a baixa no padrão de qualidade de Luiz Fernando Carvalho tem uma vantagem. Pelo menos, não veremos uma novela tão diferente dos primeiros capítulos pelos próximos meses. Em Renascer e O Rei do Gado, os capítulos iniciais eram cinematográficos. Passadas as duas semanas iniciais, ambas entraram na pastelaria global. Esse é um risco praticamente descartado, desta vez, a não ser pela fotografia, que deu o seu melhor na estréia. Vamos esperar para ver.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.