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Presos encenam com sucesso ´O Rei da Vela´

Por Agencia Estado
Atualização:

No teatro improvisado do Centro de Observação Criminológica (COC), no Complexo Penitenciário do Carandiru, 80 estudantes universitários aplaudiram hoje de pé o último espetáculo da peça O Rei da Vela, de Oswald Andrade que estreou na quarta-feira. Na primeira fila, o secretário da Administração Penitenciária de SP, Nagashi Furukawa, e o diretor de teatro José Celso Martinez também aplaudiram. O elenco do espetáculo era composto por 20 detentos cujas condenações somam mais de 400 anos, e duas atrizes. A sátira à burguesia enfoca a trajetória do agiota Abelardo. O papel do protagonista foi assumido por André Ricardo de Souza, de 31 anos, condenado a 14 anos por assassinato. Atualizou-se o texto. Os presos citam de Antonio Carlos Magalhães a Nicolau dos Santos Neto. Ironizam os programas de Silvio Santos e fazem críticas ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O cenário e os figurinos também foram criados pelos detentos. A experiência dos condenados com o teatro no COC começou há três anos, com a montagem de O Auto da Compadecida. Foi um sucesso. No ano passado, preparou-se A Pena e a Lei, outro sucesso. "O palco mudou a minha vida, que andava nas trevas por coisas que fiz", disse Rivadávia Serafim da Silva, o Rivinha, um dos primeiros justiceiros de São Paulo, acusado pela execução de mais de 50 pessoas. O teatro está mudando também a vida de Calil, Luciano e outros 16 detentos no elenco do COC. Há seis anos preso, Calil Seli de Souza, de 26, foi condenado a 15 por assaltos. Acabou aprovado em um teste com o diretor Jorge Spínola, do Teatro Oficina, responsável pelas montagens na cadeia. Souza era garçom e ao chegar ao COC mal sabia ler. Na prisão, completou o ensino fundamental. Está concluindo o ensino médio e, quando sair, quer cursar escola de teatro. "Tem gente na cadeia que faz gozação com quem está no grupo. Não ligo porque sei quem sou." Luciano Alves, de 25 anos, começou a aplicar na prisão o que aprendeu nas aulas de teatro do Colégio São Bento. Condenado a 23 anos por assaltos está preso desde os 19 anos e representa na peça uma secretária e "Chico Santos", uma sátira do apresentador Silvio Santos. "Sou de família de classe média alta, cheguei a trabalhar na Klabin, mas o crime foi mais forte e me arrastou. Hoje meus pais, que tanto sofreram, estão orgulhosos, assistiram à peça e sabem que deixando a cadeia minha vida será outra. Será no teatro." André Ricardo de Souza é o ator principal do "Rei da Vela". Já cumpriu cinco anos da condenação de 14. "Sou músico, mas precisei trabalhar como segurança para melhorar minha situação financeira e acabei na cadeia. Espero sair daqui direto para o teatro." O diretor José Celso Martinez prometeu aos detentos levar o elenco para apresentar a peça no Teatro Oficina.

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