Prêmio Multicultural 2000 Estadão Cultura homenageia candidatos com exposição

Os 14 nomes indicados para concorrer à premiação são homenageados com mostra que tem fotografia como tema básico

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Por Agencia Estado
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Amanhã à noite o Espaço de Conveniência do Sesc Pompéia vai abrigar uma festa dupla a partir das 20h30: além da entrega do Prêmio Multicultural 2000 Estadão Cultura, com troféu especialmente criado pela artista Lina Kin, à filósofa Marilena Chauí, ao geógrafo Milton Santos, ao poeta Ferreira Gullar e ao representante do Projeto Guri (vencedor na categoria fomentador cultural), será aberta amanhã à noite a mostra Território Expandido II: a Foto, que, além de prestar uma homenagem aos 14 indicados da atual edição do prêmio, abre espaço para a produção e divulgação da arte contemporânea. Com realização do Sesc São Paulo, que não apenas cedeu o local mas tornou viável toda a exposição, foram escolhidos 14 artistas de várias gerações, cujo ponto em comum é a utilização da fotografia como elemento de criação artística. Adaptando a teoria de escultura expandida, da pesquisadora norte-americana Rosalind Krauss, para o campo da imagem, a curadora Angélica de Moraes selecionou apenas aqueles que "além de tinta, telas, madeira ou metal, passaram a incorporar também a foto no interior de suas composições" e convidou-os a fazer uma obra inédita, em homenagem a uma das personalidades indicadas. O resultado é um panorama bastante amplo, que inclui trabalhos ainda bastante clássicos, como as imagens apresentadas por Miguel Rio Branco para homenagear a engenheira Carmen Portinho, até obras em que a imagem passa a ser apenas o elemento de suporte a um conceito artístico, como a escultura de Rosângela Rennó para Milton Santos. Nesta peça, as fotos de peles de diferentes raças servem literalmente de suporte para uma delicada e aristocrática mesinha de centro no estilo francês. Neste pequeno trabalho estão contidos ao mesmo tempo comentários sobre geografia, política e racismo, os três ingredientes básicos para compreender o pensamento e a ação de Milton Santos. Outro trabalho que acerta o alvo com precisão quase cirúrgica é a instalação De Zero a..., de Edney Antunes. Em sua homenagem ao Projeto Guri, o artista goiano e autodidata fabricou uma série de balas. Haverá centenas delas à disposição em dois baleiros, instalados diante de um painel de balas e o visitante poderá comê-las quando quiser. Mas é provável que a maioria fique intocada já que, no papel que embrulha a guloseima estão impressos rostos de crianças com tarjas pretas sobre os olhos. O trabalho de Antunes parece gritar contra a hipocrisia da sociedade que literalmente consome sua juventude, sem dar-lhe condições mínimas para ter uma vida digna. Uma característica interessante desta segunda edição da exposição é que parece haver uma maior homogeneidade, sem tantos altos e baixos quanto no ano passado. Território Expandido II contém trabalhos que se referem de forma mais direta à biografia ou a obra do homenageado - como o mergulho dado por Lenora de Barros no universo da cultura russa para homenagear o tradutor Boris Schnaiderman, traçando um paralelo entre o pingue-pongue e o ato de traduzir - e aqueles que acabaram estabelecendo uma conexão mais forte com o tema do uso expandido da fotografia. É o caso do belo trabalho apresentado por Luiz Zerbini, que retrabalha imagens de seu próprio corpo, referindo-se à Riofilme de forma sutil. Mas nenhum dos artistas convidados, tenham eles lugar garantido na história da arte brasileira, como Lygia Pape e Nelson Leirner (que homenageiam respectivamente os filósofos Gerd Bornheim e Marilena Chauí), ou estejam realizando a primeira exposição de suas vidas (é o caso de Jurandy Valença), abriram mão de suas pesquisas pessoais para adequar-se à pauta que lhes foi apresentada. É curioso notar, no entanto, que os espelhos e auto-retratos são as grandes estrelas da mostra. Eles estão presentes nos trabalhos de Caio Reisewitz (para Ferreira Gullar), Jurandy Valença (Antônio Araújo), Lenora de Barros, Luiz Zerbini, Lygia Pape, Marcos Jorge (Eduardo Coutinho), Marcia Xavier (Luís Tati) e Rubens Mano (Adauto Novaes). "O espelho é uma questão tão clássica, tão ancestral, que sempre se apresenta de formas novas", afirma Marcos Jorge, em busca de uma explicação para esse fato que supera, e muito, a coincidência. E provavelmente também não pode ser explicado apenas pelo fato de o espelho ser uma forte metáfora para a fotografia. No texto do catálogo, Angélica de Moraes dá uma outra pista para a compreensão desse fato, afirmando que a fotografia "não é jamais espelho do real mas sim visão subjetiva de mundo", diz ela. "Não há como anular a personalidade por trás da câmara nem supor que exista realidade monolítica a ser fixada em flagrante", conclui. A lista de homenageados da noite não se restringe aos indicados para o Prêmio Multicultural. A festa acabou servindo para relembrar uma outra figura importante da cultura nacional, a arquiteta Lina Bo Bardi. O arquiteto Marcelo Ferraz, autor da cenografia da mostra, aproveitou a ocasião para pôr em prática pela primeira vez o projeto inicial da criadora do Sesc Pompéia para o Espaço de Convivência da instituição. Além da água e do fogo (representados pelo riozinho artificial e pelas lareiras), Lina queria "plantar" algumas árvores pelo local. As plantas secas foram colocadas no local e enfeitadas com fitinhas coloridas, conforme a idéia original.

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