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Preciosidades de Volpi em duas mostras

Duas novas exposições jogam luzes definitivas sobre a argúcia, o método, o senso visionário e a coerência artística do pintor Alfredo Volpi (1896-1988)

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1957, o poeta Ferreira Gullar assinalou em apenas um título a grande ambigüidade da figura do pintor Alfredo Volpi (1896-1988) num artigo publicado em jornal: ?Volpi, pintor popular, mas não muito.? O autodidatismo de Volpi, as figuras ingênuas e populares da primeira fase, sua figura arredia e meio caipira, o percurso profissional de pintor de paredes a ídolo de galerias - tudo isso turva a avaliação do mérito teórico do artista. Duas novas exposições, no entanto, jogam luzes definitivas sobre a argúcia, o método, o senso visionário e a coerência artística de Volpi. A primeira mostra, que o Museu de Arte Contemporânea (MAC) abre nesta terça-feira na Galeria de Arte do Sesi (Avenida Paulista, 1.313, na região central de São Paulo), exibe uma obra rara de Volpi. Vermelho, Verde e Rosa, de 1954, enviada pelo artista para a 32.ª Bienal de Veneza, em 1964, só foi exibida uma única vez ao público. Vermelho, Verde e Rosa é certamente, pela data, uma das primeiras experiências de Volpi com as famosas bandeirinhas. "A diferença é que são bandeirinhas irregulares, de formato assimétrico, cortadas ao meio por uma linha vermelha - também torta", assinala Teixeira Coelho. A tela pertenceu a Theon Spanudis, que a doou em 1979 à Associação de Amigos do MAC. Interessante notar que Volpi só a enviou a Veneza dez anos depois de pintá-la. O verso da tela tem o selo da Bienal, segundo Teixeira Coelho. Já a outra mostra é mais ampla. São 55 obras de todas as fases da carreira de Volpi, na qual a Dan Galeria pretende mostrar que a manipulação consciente de recursos, métodos, idéias e "premissas construtivas" marca todo o trajeto do pintor. A exposição será aberta na próxima segunda-feira, na Rua Estados Unidos, 1.638, região sul de SP. É fruto de bons anos de pesquisas do marchand e colecionador Peter Cohn, que diz ter observado rigorosamente o levantamento da obra do artista, trabalho da Sociedade para a Catalogação da Obra de Alfredo Volpi. A sociedade já mapeou, até agora, 2.249 obras do pintor do Cambuci. Vanguarda - Em 1985, a Dan Galeria já tinha apresentado uma exposição celebrativa, a mostra Volpi, 89 Anos. "A idéia agora não é apresentar coisa nova, até porque isso não é o caso em se tratando de Volpi, mas de oferecer um painel que permita ver como ele tornou-se - 50 anos depois de dividir o prêmio da 2.ª Bienal de São Paulo com Di Cavalcanti - suporte e substrato para as vanguardas contemporâneas", disse o marchand Peter Cohn. A perspectiva comercial, é claro, também norteia a exibição, já que a Dan Galeria é uma das que negociam Volpis no mercado - assim como Bonadei, Di Cavalcanti e Ismael Neri. Entre os modernistas brasileiros, artistas mais valorizados do mercado Cohn crê que Volpi chegue ainda a atingir preços equivalentes aos quadros de Tarsila do Amaral e Ismael Neri, e "num futuro muito próximo". De naturezas-mortas às fachadas dos casarios de subúrbio de anjos barrocos modernos a bandeirinhas tornadas ogivas, de formas abstratas concretistas aos estudos para retratos da musa Gilda: quase todo o percurso de Volpi está disposto na exposição da Dan Galeria. Conhecido mais popularmente como "o pintor das bandeirinhas", Volpi já tinha uma produção de mais de três décadas antes de começar a série temática. Na década de 20, por exemplo, sua obra já evocava correntes vanguardistas européias, como o impressionismo e o pontilhismo. Nos anos 30, pintou marinhas sob influência do amigo Ernesto De Fiori, mas também traz influência do pintor naïf Emygdio de Souza, com o qual pintava em Itanhaém naquela década. No fim dos anos 40, intensificava o uso de elementos figurativos em seus quadros de telhados e fachadas. Nos anos 50 e 60, ele inicia a sua fase concreta, geométrica, esmerando-se na série de bandeirinhas. Nos anos 70, convencido de que devia experimentar a radicalização da abstração, dos experimentos de cor e efeitos cinéticos, ele atravessa as bandeirinhas com mastros e ogivas. Volpi sempre deixou claro que considerava a pintura um problema formal a ser resolvido, o que o distanciava léguas da imagem de pintor intuitivo. "É sempre conveniente lembrar que a originalidade da obra de Alfredo Volpi reside precisamente na tensão entre o elemento culto e o popular, na espécie de realismo estóico a que o pintor submeteu as verdades universais do vocabulário construtivo, de sorte que o lirismo e a simplicidade de atitudes firmadas nessa pintura não decorreriam de uma ingenuidade perante o mundo, mas, ao contrário, de uma disponibilidade profunda para acolher suas contradições, para aprender a tolerância e o cultivo da frugalidade em face de uma natureza fundamentalmente injusta", escreve a crítica Sônia Salzstein. Serviço: Estratégias para Deslumbrar. De terça a sábado, das 10 h às 20 h; domingo, das 10 h às 19 h. Centro Cultural Fiesp - Galeria do Sesi. Avenida Paulista, 1.313, tel. (0xx11) 3253.5877. Até 12/6 Volpi - A Transmutação pela Cor. De terça a sexta, das 10 h às 19 h; sábado, das 10 h às 13 h. Dan Galeria. Rua Estados Unidos, 1.638, tel. (0xx11)3083.4600. Abertura na segunda para convidados e no dia 19 para o público. Até 15/4

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