Possi retorna ao Jazz de Duke Ellington

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Por Maria Eugenia de Menezes
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Não havia nada para fazer naquele verão em Nova York. Então, José Possi Neto partiu para uns dias em Boston. Era uma noite quente de 1977. Sozinho, ele caminhava a esmo por uma rua desconhecida da cidade americana, mas acabou parando ao ouvir a música que vinha de um porão. Decidiu entrar. Lá dentro, no salão esfumaçado, a plateia era quase toda negra e lotava as mesas ouvindo uma banda de jazz. "O som era absolutamente maravilhoso. Eu só não conseguia entender como é que todo mundo conseguia ficar sentado, sem dançar", lembra o diretor.

 

 Foi para resolver esse impasse que Possi criou Emoções Baratas, espetáculo que abre temporada a partir de hoje, para convidados, e amanhã, para o público.O musical é uma releitura de sua versão original, lançada em 1988, e volta agora a ocupar o mesmo palco de antes, no Estúdio EMME, endereço do antigo Avenida Club. À época, Emoções Baratas estourou quase instantaneamente como sucesso: ficou mais de 30 meses em cartaz e lançou a Big Jazz Band Heartbreakers, criada um ano antes por George Freire e Guga Stroeter. Stroeter, que continua à frente da banda, assina também a direção musical da montagem e foi o responsável pela seleção das canções de Duke Ellington que servem de base ao musical. Para criar o roteiro, Possi ficou por mais de um mês junto à orquestra. Editando uma por uma as 29 músicas e elaborando o argumento que iria servir de subsídio ao trabalho posterior com os bailarinos. "É essencialmente um trabalho de construção de imagens", explica ele, que fez cinco baterias de testes para conseguir selecionar os nove bailarinos e os dois grandes trunfos da montagem: as cantoras Bibba Chuqui e Karin Hils. A alegria soturna. Ainda que mereça o nome de musical, Emoções Baratas pouco se assemelha aos congêneres em cartaz na cidade. Não tem um diálogo sequer, possui um esmerado trabalho de técnica corporal e envereda pelo caminho que é uma das marcas registradas da linguagem de Possi: o teatro-dança.Tudo aquilo que já aparecia em criações inquietantes como Um Sopro de Vida volta à baila em Emoções. E, ainda que o tom aqui seja um pouco mais solar, não dispensa certa atmosfera lúgubre. "Não tem como não ser sombrio", diz Possi. "São personagens da noite, pessoas que são sofisticadas, mas que vivem à margem e remetem a uma época de segregação. Eles podem até ser marginais de luxo, mas ainda assim marginais."TRILOGIA AMERICANAMucho CorazónCinco anos após a montagem de Emoções Baratas, em que se debruçava sobre o jazz, José Possi Neto retomou a parceria com a banda Heartbreakers e criou, em 1993, Mucho Corazón. O musical tinha como foco os ritmos latinos e a salsa. "Naquela época, o público ainda olhava para a música latino-americana com preconceito", lembra o diretor. Baile EstelarVoltado à música brasileira, Baile Estelar completava a trilogia que Possi Neto dedicou aos "ritmos americanos": o jazz, a salsa e o samba. Na montagem, o diretor e Guga Stroeter revisitavam as raízes negras da moderna MPB e passavam pelas canções de Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Lamartine Babo e outros. / M.E.M.

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