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Portão de embarque: Encontros adiados, férias e viagens de emergência ao Brasil na pandemia

A reportagem do Estadão passou uma tarde em Cumbica para conhecer histórias de quem precisa viajar durante a pandemia

Foto do author Gilberto Amendola
Por Gilberto Amendola
Atualização:

Como quase tudo ao nosso redor, a vida que se desenrola nos portões de embarque e desembarque de um aeroporto foi bastante afetada pela pandemia da covid-19. A reportagem do Estadão passou uma tarde em Cumbica (Aeroporto Internacional de Guarulhos) para conhecer histórias de encontros adiados, férias frustradas, adaptações inusitadas, viagens de emergência e muito mais. 

As histórias de quem vai e quem fica nos aeroportos durante a pandemia Foto: Tiago Queiroz/Estadão

No embarque. No check-in do Terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, ninguém parece ter tido a vida mais afetada pela pandemia do que o engenheiro de software Maxson Medeiros, 26 anos. Há três anos vivendo na Alemanha, ele precisou voltar às pressas ao Brasil porque sua mãe estava internada com covid-19. “Voltei assim que eu soube da internação. Infelizmente, minha mãe faleceu. Estou retornando agora para a Alemanha com a sensação de que aqui no Brasil a gente não está dando a mesma importância para o que está acontecendo. Não me senti seguro por aqui”, disse. Próximo a Medeiros, estão pessoas que também tiveram o roteiro de suas vidas afetado pela pandemia. Aos 59 anos, João Ivonei Faraco dirigia caminhões no Japão quando o coronavírus fez com que ele voltasse ao seu país de origem para ficar mais perto da família; a cozinheira Érica Silva França, 39 anos, trabalhava em um restaurante na Suíça quando o aumento de casos de covid por lá fez ela correr para um aeroporto; e Jéssica Luiza de Oliveira, 25 anos, tinha uma vida organizada na Itália antes de o país ter se transformado no epicentro europeu da covid. Em comum, João, Érica e Jéssica estavam embarcando para retomar suas vidas, suas histórias e sonhos longe do Brasil. A sensação compartilhada entre eles é de que “o pior da pandemia já está passando no resto do mundo” e que chegou a hora de voltar a trilhar o caminho que eles escolheram. Ao menos, aparentemente, nenhum deles caiu na tentação de “ficar por aqui” – e um dos principais motivos é a insegurança em relação à pandemia. “No Japão, eles já estavam acostumados com o uso de máscara. Não teve essa confusão ou essa polêmica em relação a ela”, afirmou Ivonei. 

Rumo ao Japão. Ivonei diz que lá o povo já usava máscara. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

No embarque internacional, a expectativa para os reencontros produzia uma energia fácil de captar. Eduardo de Carvalho Pires, 13 anos, precisou adiar em um ano os planos de ir morar com a mãe em Portugal por conta da pandemia. “Converso muito com ela. A situação lá está melhor do que aqui. Estou indo estudar e morar com a minha mãe”, disse. Enquanto isso, em outro canto do salão de embarque, Regina Fusco, 59 anos, reclamava do voo perdido por conta de um teste de covid (PCR) que precisou ser refeito. Ela estava a caminho de Madri, na Espanha, para reencontrar o filho que não via desde o início da pandemia. 

Ver a mãe. Com os avós, Eduardo, de 13 anos, foi para Portugal. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Apesar das restrições impostas para viagens internacionais, ainda foi possível encontrar quem estivesse embarcando para umas férias fora do País. Vejam o caso da família Carvalho. José Carlos Carvalho, 50 anos; Luana Carla Ferreira de Carvalho, 26, e Heloísa, 6. Eles estavam próximos de embarcar de férias para a...Sérvia.  “Nosso plano inicial era de férias em Londres. Mas, claro, a gente não conseguiria entrar agora. Então, pesquisamos sobre os países em que a gente poderia entrar. Escolhemos a Sérvia pelo aspecto histórico. Estamos muito animados para conhecer”, disse Luana.

Férias na Sérvia. José Carlos Carvalho viajou com a família. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As amigas e advogadas Ana Luiza Juber, 25 anos, e Bartira Miranda, 51, também escolheram o destino possível em tempos de pandemia. “A gente pensou nos Estados Unidos, mas, com a pandemia, tivemos que nos adaptar. Dubai está aceitando brasileiros. Não estava no topo da nossa lista, mas estamos bem animadas para a viagem”, falou Bartira. No desembarque. Agora, vamos descer para o desembarque e conhecer pessoas que estão fazendo o caminho inverso e voltando para o Brasil. Como o número de voos caiu sensivelmente desde o início da pandemia, flagramos apenas dois voos chegando na cidade, vindos de Dubai e Lisboa.  Renata Bispo, 33 anos, estava ansiosa para receber a irmã, que estava chegando de Portugal. Depois de uma viagem adiada por três vezes, por conta da pandemia, elas felizmente iriam se reencontrar. “Ela se programou para vir, mas a covid foi um empecilho. Agora, felizmente, vou poder abraçá-la outra vez”, falou Renata. No mesmo saguão, estava a artesã Gislaine Suzuki, 49 anos. Ela esperava o marido, o técnico de informática Takahiko Suzuki, 64 anos, que estava voltando do Japão (com escala em Dubai). “Moramos há 7 anos no Japão. Voltei há 9 meses para o Brasil para ver como as coisas estavam por aqui e, talvez, para ficar de vez quando ele chegasse. Agora, depois desses meses de pandemia, minha tendência é convencê-lo que o melhor é a gente voltar para o Japão”, contou. No desembarque, também tinha gente voltando de férias, como é o caso do administrador Paulo Lemos, 56 anos. Com familiares e amigos, ele voltava de férias das Maldivas. “É uma viagem free covid. Já no aeroporto, você é incentivado a tirar a máscara. Recomendo muito. Voltaria fácil”, disse. Já a passagem de Ana Paula Dias da Silva, 37 anos, pelo saguão do desembarque foi ligeira. Assim como outros passageiros, ela só queria pegar um carro para rever um ente querido que não via desde antes do início da pandemia. “Minha mãe tem 81 anos. Ela está quietinha, em isolamento, desde quando a covid começou. Não vejo a hora de abraçá-la e ficar pertinho dela”, contou Ana. 

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