Como o senhor também já sabe, fizemos um plebiscito interno no Congresso para escolher o mais íntegro e impoluto entre nós para resgatar a reputação dos políticos, esta classe tão desmoralizada e tão desacreditada, principalmente depois dos últimos escândalos. A escolha foi fácil, foi quase unânime, pois nenhum outro político brasileiro tem a sua reputação de seriedade e honestidade.
O que lhe oferecemos é uma espécie de ditadura branca. O senhor nos governaria, por um período a ser determinado, até que a classe política recuperasse seu bom nome e a população voltasse a confiar nos seus representantes. As instituições da República continuariam funcionando, não haveria censura ou qualquer outro resquício de uma ditadura real, mas o senhor teria a palavra final – sobre tudo, da política econômica à escalação da seleção.
Sua honradez é notória, mas mesmo assim precisamos sabatiná-lo, antes de nomeá-lo. Uma mera formalidade. – Pois não. – O senhor tem conta não declarada na Suíça ou em algum paraíso fiscal? – Não. – E trust? – Nem sei o que é isso. – O senhor foi delatado ou está sendo investigado pela Lava Jato? – Não. – E sua vida amorosa? Existiu algum caso que possa embaraçá-lo, se vier à tona durante seu mandato? – Estou casado com a Josefa há 40 anos e nunca olhei para outra mulher. – Acho que temos o homem ideal para governar o País. Não precisaremos de eleições. O País está cansado de tanta falcatrua e apoiará sua eleição por aclamação. O senhor aceita? – Aceito. – Seu salário, por sinal, será o de presidente da República. – Epa. Não tem algum por fora?