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Política encoberta

Busca pelo equilíbrio entre conceito e estética oferece o tom da Bienal de Istambul

Por Camila Molina
Atualização:

ISTAMBULUm visitante da 12.ª Bienal de Istambul - Sem Título -, aberta ontem, criticava a espécie de "igreja da violência"construída na mostra, ou seja, a presença de fotografias como a sequência de imagens da execução de um vietnamita nas ruas de Saigon, em 1968, realizadas pelo fotógrafo Eddie Adams. "Interessa a fricção entre o conceito e a forma, a dualidade entre o tema e a sofisticação da imagem", responde Jens Hoffmann, que assina a curadoria da exposição ao lado do brasileiro Adriano Pedrosa.Mesmo que a questão da arte e política seja um dos motes da Bienal, o projeto curatorial tem pouca abertura para explicitação de temas. "Em 2009, houve uma radicalização do tema (arte e política) e a mostra tinha uma clara mensagem em defesa do retorno ao comunismo. Nossa aproximação toma outro curso e buscamos arte que tenha preocupação política mas também estética, formal ou visual", afirma Pedrosa. "A humanidade está doente e tem muita gente tentando entender essa doença", diz a artista Rosângela Rennó sobre o caráter de intimismo e não de grito presente em muitas das obras. Dos artistas brasileiros na mostra, Rosângela tem uma sala especial no segmento Sem Título (Passaporte), onde exibe trabalho recente com versos de imagens roubadas na Biblioteca Nacional, no Rio, e Imemorial, de 1994, instalação com retratos de trabalhadores mortos durante a construção de Brasília. Além dela, o Brasil está representado por Claudia Andujar, Ernesto Neto, Rivane Neuenschwander, Lygia Clark, Lygia Pape, Renata Lucas, Jac Leirner, Antonio Dias, Leonilson, Adriana Varejão, Jonathas de Andrade, Theo Craveiro e Clara Ianni.Trabalhos específicos da série Sem Título, do artista Félix González-Torres, norteiam os cinco núcleos temáticos da Bienal. É o segmento Sem Título (Ross), de certa forma, que tem inserido o contraste explicitação/delicadeza. Formalismo e minimalismo dão o tom do segmento Abstração; o tema da fronteira, territórios e deslocamentos, em Passaporte; a questão dos livros em História; a morte por armas, agressão e violência aparece nas obras de Death by Gun; e, em Ross, inspirado no trabalho de González-Torres sobre seu parceiro que convalescia pela aids, as obras tratam de intimidade, sexualidade, desejo e relações, com destaque para a sala do libanês Akram Zaatari, com imagens antigas feitas em estúdio fotográfico no Líbano.A Bienal é tradicional ao centrar seu foco na exposição e na relação direta dos espectadores com as obras. "As Bienais se tornaram outras coisas e aqui há um retorno à mostra", diz Pedrosa.A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA BIENAL DE ISTAMBUL

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