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Polêmica substituição de madeira

Trecho do texto do superintendente do Iphan ilustra as dificuldades de conciliar métodos clássicos de restauro

Por Victor Hugo Mori
Atualização:

A substituição de grande parte do madeiramento e o renivelamento de toda a estrutura era o grande desafio técnico e conceitual. O parecer do consultor japonês era que apenas a mesma madeira utilizada (eucalipto) poderia ser empregada nas peças substituídas e nas próteses a serem executadas. A estrutura japonesa, neste caso, configurava um delicado sistema de apoios e travamentos compostos, que não permitira a convivência entre materiais com densidades e coeficientes de dilatação diferenciados. Era a mesma conclusão dos técnicos do Iphan e do Condephaat. A substituição de vigas com encaixe em espiga que adentram os pilares, sem a desmontagem dos mesmos, foi solucionada por um novo sistema de encaixe em uma das espigas. Essa solução engenhosa foi criada pelo sr. Mário Ferraz, antigo mestre carpinteiro aposentado pelo Iphan.Quando a estrutura atua como elemento formal, numa perfeita simbiose entre técnica e estética, a substituição do madeiramento estrutural do Casarão é polêmica: o artigo 8.º da Carta de Veneza diz que "os elementos de escultura, pintura ou decoração, que são parte integrante do monumento, não lhes podem ser retirados, a não ser que essa medida seja a única capaz de assegurar sua conservação". O artigo 10.º recomenda que "quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o emprego de todas as técnicas modernas de conservação e construção". A ambiguidade desse artigo parece priorizar em primeira instância o emprego das técnicas tradicionais, e só quando julgadas inadequadas poderão ser empregadas as técnicas modernas.

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