Poetisa Elizabeth Bishop inspira monólogo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

José Possi Neto vai dirigir e Regina Braga protagonizar o monólogo A Visita, inspirado na vida da poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), que viveu 15 anos no Brasil. O texto foi escrito para a atriz pela dramaturga e jornalista Marta Góes. A decisão de criar uma peça sobre a poetisa foi inspirada numa lembrança da infância. "Eu morava em Petrópolis e, ainda garota, ouvia comentários sobre uma vizinha, homossexual assumida, casada com uma poetisa americana", conta Marta. Mais tarde, quando começaram a ser traduzidas no Brasil as poesias de Elizabeth Bishop e também biografias e sua correspondência, Marta lembrou "daquelas mulheres", como cochichava a vizinhança, e mergulhou no tema. Elizabeth veio ao Brasil para passar uns dias, mas apaixonou-se pela arquiteta Lota Macedo Soares e ficou 15 anos. Depois de muitas leituras sobre a poetisa, Marta, que foi editora do Caderno 2, do Estado, escreveu o texto entre janeiro e março. O título da montagem, em fase de captação de recursos, pode mudar, alguns ajustes devem ser feitos, mas está pronto o texto no qual a autora fez uma inteligente escolha dramática: focou o olhar sobre a transformação sofrida por Elizabeth no Brasil. "Interessei-me por essa história porque vi que tinha potencial para virar teatro", afirma. "Quando desembarcou em Santos, Elizabeth Bishop era alcoólatra e estava deprimida. Aqui ela foi aceita, admirada e deu uma virada em sua vida." Por outro lado, Lota, a arquiteta responsável pelo Aterro do Flamengo, no Rio, era uma mulher forte, bem relacionada, que acaba deprimida e, por fim, suicida-se. "Essa troca de papéis é muito interessante." A peça começa com o desembarque de Elizabeth Bishop no Porto de Santos, em 1951. "Era apenas uma escala numa viagem pela América do Sul e ela desembarcou para visitar uma conhecida Mary Morse." Por intermédio dela, conheceu Lota. Em Santos, Elizabeth comeu caju e sofreu forte reação alérgica. Lota e Mary cuidaram da poetisa. "Ela vivia um momento delicado e aqui encontra essa rede de mulheres que se derretem por ela", comenta Marta. A peça acompanha a luta para vencer o alcoolismo da poetisa, uma mulher angustiada também com a própria criação artística, que será renovada nessa estada. E termina com a escritora vivendo novamente em Nova York. A autora enfoca ainda a percepção de Elizabeth Bishop sobre o Brasil e os brasileiros, que sempre oscilou entre o encanto e a exasperação. "Tolos, simpáticos e sujos", definiu certa vez. Como pano de fundo, um país em transformação, no qual surgia a bossa nova e a moderna arquitetura, num momento de forte afirmação da identidade nacional. "O Brasil vivia uma fase de encantamento consigo mesmo", comenta Marta. Ela ressalta ainda a pujança da arquitetura e da música nas décadas de 50 e 60. "Essa foi uma das razões pelas quais Regina pensou em Possi, talentoso na direção de arte, capaz de recriar essa importante moldura arquitetônica no palco."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.