Poesia sobre os devaneios de Eno

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Brian Eno é venerado pela juventude criativa dos dias de hoje. Suas expedições estéticas com o Roxy Music, David Bowie e em trabalho solo, durante os anos 70 e 80, são as raízes de grande parte da música sintética de hoje em dia (Aphex Twin, Broadcast e Autechre, todos da Warp, mesma gravadora de Eno, são seus afilhados musicais). Portanto, ouvir Brian Eno recitar uma lista telefônica, como diriam os americanos, já é um dever. E em certo sentido isto é o que o produtor faz em Drums Between the Bells, colaboração com o poeta Rick Holland. O disco é feito de versos de Holland recitados sobre os devaneios de Eno, um deles lido pela secretária do spa do artista, que segundo matéria publicada no Guardian, ouviu a voz saindo da sauna e chamou a moça para o estúdio. O que interessa, no entanto, é a música. Não demora muito para que o ouvinte seja arrebatado pelo virtuosismo sonoro de Eno. Bless This Space abre o disco com uma levada de jazz. Logo um motivo sintético toma conta do suingue e uma camada complementar surge ao fundo, como caminhões à distância. Para completar, uma guitarra desafinada, aparentemente tocada por uma amplificador defeituoso, agrega um solo. É uma volta às experimentação da época de Another Green World e Low, sua colaboração com David Bowie em sua fase pré ambient music. Há momentos que lembram seus discos com Robert Fripp, guitarrista do King Crimson e outros que são evidentemente sequências de seu último disco, Small Craft on a Milk Sea, lançado em 2010. Embora as leituras de Drums Between the Bells não sejam inteiramente contagiantes, a simples degustação das texturas criadas por Eno vale a audição. A forma com que Eno usa percussão ao vivo com a parte rítmica soa um pouco datada, mas há sempre um elemento surpresa, como as guitarras de heavy metal e a percussão de copos de cristal em Sounds Alien.

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