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Poesia de Drummond inspira coreografia

Sem Lugar leva ao palco o universo do escritor e marca também os 20 anos do grupo mineiro 1.º Ato, cuja trajetória pode ser revista em mostra

Por Agencia Estado
Atualização:

O 1.º Ato comemora seus 20 anos com a estréia da coreografia Sem Lugar, assinada por Tuca Pinheiro, e com uma exposição de objetos cênicos, fotos e figurinos que marcaram a trajetória do grupo. A peça foi inspirada em poemas de outro mineiro, Carlos Drummond de Andrade. Sem Lugar nasceu a convite do neto do poeta, Pedro Drummond, após ter assistido ao espetáculo Beijo... nos Olhos... na Alma... na Carne, no Rio, em 1999. "O convite foi a deixa para criarmos a coreografia, já tínhamos a intenção de montar um trabalho que dialogasse com a poesia", diz Pinheiro. A coreografia começou a ser elaborada em outubro de 2000. "Não contei aos bailarinos qual era o tema, não queria influenciá-los. Depois de um tempo revelei que o assunto era a poesia de Drummond, eles estudaram, mas pedi para que não se emoldurassem, que tirassem conclusões próprias sobre a obra do poeta." Pinheiro trouxe ao palco o universo de Drummond, não queria apenas transformar poemas em dança. O coreógrafo contou com uma característica da companhia: dar espaço aos intérpretes na criação. A partir de questões e estímulos, os bailarinos fazem emergir experiências para a elaboração do trabalho em conjunto. "Essa é uma peça autoral, trabalho com pessoas, cada um responde ao estímulo à sua maneira, a coreografia tem um pouco da visão de cada intérprete sobre o poeta." Para não perder o rumo, três elementos da poesia de Drummond foram eleitos para orientar a movimentação. De acordo com Pinheiro, quando o poeta diz que é um anjo torto, um gauche, demonstra que não se encaixa em padrões, daí a idéia do título Sem Lugar. O verso "havia uma pedra no meio do caminho" inspirou levou a reflexões e questionamentos e, por fim, as memórias de infância em contraposição à maturidade. "Esse é um espetáculo que mexe com as sensações, com forte apelo sensorial, mais especificamente visual e auditivo." "Sem Lugar pode ser considerada a síntese destes 20 anos de experiência", diz a diretora Suely Machado. Para ela, a coreografia reforça o método de criação feito e aprimorado pelo centro de dança e ainda mostra o talento de Tuca Pinheiro, bailarino da companhia, que começou a coreografar para o grupo. "Apostamos no potencial dos bailarinos, dos jovens coreógrafos, abrimos para novas idéias; gosto da diversidade de estilos." A coreografia contou com o apoio de uma bailarina de Itabira, terra natal de Drummond, que auxiliou na pesquisa biográfica. "Não tivemos a pretensão de retratar a vida do poeta, a poesia foi inspiração para cada bailarino criar os seus gestos e trazer à tona elementos de infância, o que dá um caráter muito pessoal a Sem Lugar." O centro mineiro 1.º Ato nasceu em 1982 com a finalidade de ir além da técnica, incentivar a potencialidade de cada intérprete - os bailarinos são co-autores dos trabalhos. "As crianças entram no grupo aos quatro ou cinco anos, tomam aulas de consciência corporal ou improvisação de forma lúdica e somente aos sete ou oito anos decidem se seguirão para o clássico ou moderno. A técnica se desenvolve ao lado do desenvolvimento pessoal." As comemorações do aniversário do grupo já começaram e um dos projetos que marcaram as festas é o 20 Anos em 20 Praças. Duas vezes por mês, a companhia escolhe uma praça da periferia de Belo Horizonte para apresentar peças do repertório para aqueles que não têm acesso aos teatros. A coreografia deve circular pelo País e sua chegada a São Paulo está prevista para outubro.

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