Plínio Marcos pelo elevador social

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Por Redação
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Depois de dar voz a seres cujo destino trágico estava intrinsecamente ligado à luta diária pela sobrevivência, em peças como Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, Plínio Marcos voltou seu olhar para a classe média em A Dança Final. Mudam as dores, não a contundência. Como nas demais, o conflito central se impõe logo na primeira cena e é provocado pela impotência sexual do marido.Denise Weinberg e Norival Rizzo interpretam esse casal em crise na montagem dirigida por Noemi Marinho que estreia amanhã, no Teatro Bibi Ferreira. O ponto de partida é a ameaça feita pelo marido, por conta de sua frustração sexual, de cancelar a festa de bodas de prata, 25 anos de casamento, cuidadosamente preparada pela mulher. Algo que ela não pode suportar, afinal, ela própria jamais atingira o prazer por ele imaginado, a sua revelação em meio ao conflito, e nem por isso deixou de cumprir os ritos sociais do casamento."Plínio cria fotografias da alma num movimento constante em suas peças: os personagens têm discussões repetitivas, por questões quase banais, mas no meio delas, subitamente, abrem sua alma e, nesse átimo, revelam sentimentos profundamente humanos, universais", diz Denise. "Menezes, o marido, culpa a mulher, o trânsito, o estresse por sua impotência", observa Rizzo. Mas ela reside justamente na impossibilidade de romper com o comportamento de senso comum. "Eles querem ser iguais. A igualdade é o objetivo e o ônus da classe média, na qual nós nos incluímos", diz Noemi Marinho."É um jogo perverso. O sentimento real importa menos do que a aparência. Ela diz que não tem do que reclamar porque eles têm um bom apartamento, filhos encaminhados. E nessa cegueira econômica, não conta sua alma destroçada", diz Denise. "Para ele, a impotência seria suportável se ficasse entre o casal, mas a possibilidade de o problema virar comentário na piscina ou nos churrascos do condomínio - aí é o fim do mundo."Noemi Marinho valoriza essa ideia do casal atravessado por valores externos. "Eu brinco que coloquei a cama na piscina. A cenografia remete à área comum do condomínio." / B.N.A Dança FinalBibi Ferreira (300 lug.). Av. Brig. Luiz Antônio, 931, 3105-3129. 6ª e sáb. 21h30; dom. 20 h. R$ 40/ 60

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