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Pintura de Goldfarb volta-se para os mestres

Em sua nova exposição, artista afasta-se de temas autobiográficos, como o flagelo nazista, e parte para citações e estudos de obras de Vermeer e Rembrandt, entre outros

Por Agencia Estado
Atualização:

Há cada dois anos, Walter Goldfarb traz a São Paulo uma seleção de sua produção mais recente, mostrando como consegue manter-se fiel a uma série de questões e ao mesmo tempo avançar em direção a novos desafios temáticos e formais. Nas mostras que realizou na Galeria Thomas Cohn em 1998 e 2000 ainda predominavam em sua pesquisa aspectos muito autobiográficos, relacionados a sua convivência com uma mãe dominadora e com o terror do nazismo. Há ainda na mostra a ser inaugurada nesta terça-feira algumas obras dessa fase. Agora, Goldfarb acredita que conseguiu romper essa amarra e atirou-se de corpo e alma numa exploração tenaz de símbolos da história da arte. A questão da dominação da imagem da mulher é a que predomina entre os trabalhos que compõem o tríptico (Azul, Vermelho e Amarelo) inspirado nas toilettes de François Boucher ou da tela Enquanto Seu Lobo Não Vem - a menos presa a citações de obras já existentes. Até na associação entre Lição de Anatomia, de Rembrandt, e A Bordadeira, de Vermeer, o artista carioca estabelece uma interessante contraposição entre os diferentes papéis sociais historicamente impostos a homens e mulheres. Mas, apesar desse fio em comum, os trabalhos exibidos por Goldfarb nesta temporada, que pertencem à série Não Lhe Prometo um Jardim de Rosas, parecem fazer parte de universos distintos, como se o artista estivesse promovendo esse passeio comentado pela história da arte em busca de seu caminho. Formalmente, também se verifica a necessidade do artista - que está entre os jovens brasileiros que mais conseguiram projeção no mercado internacional nos últimos anos - de se propor novos desafios. Quem já havia visto suas enormes telas, marcadas pelo uso predominante de tons claros (talvez porque, em oposição a um tema tão violento como o nazismo, ele precisasse de alguma leveza) se surpreenderá com o excesso de cores escuras nos atuais trabalhos. A técnica continua a mesma, com predomínio do desenho em carvão. Mas, desta vez, praticamente todo o campo da tela é impregnado com esse pigmento, que vai aderindo ao algodão graças ao processo de escovação e lavagem (com produtos químicos) ao qual a obra é submetida várias vezes. A diferença de tons (como o amarelo, azul e vermelho usado no tríptico) também vem do carvão, graças a um demorado processo de seleção das diferentes tonalidades dos bastões usados por Goldfarb. A confecção de cada obra demandou semanas de trabalho e Goldfarb chegou a ter uma série de problemas de coluna em conseqüência do esforço. Outra novidade formal na obra de Goldfarb é o surpreendente agregamento de elementos tridimensionais à pintura. Ele faz questão de afirmar, no entanto, que esses objetos não são um salto em direção à arte tridimensional. O pequeno divã e a cadeira que ele próprio construiu estão associados às telas do tríptico (vistos por ele como uma espécie de espelho, uma distorção do olhar da sociedade sobre uma questão delicada como a intimidade feminina), mas não devem ser vistos obrigatoriamente como parte desses trabalhos. Os dois saíram de telas de Matisse e remetem à sua Dança, que há muito está presente na obra de Goldfarb. "Não sou uma pessoa acomodada com minha produção. Quando começa a ficar fácil fico incomodado", afirma ele. Essa necessidade de mudança já determinou novos rumos em seu trabalho. Preparando uma exposição individual para a galeria Gary Nader Fine Art, de Miami, ele já enveredou por um novo emaranhado de temas relacionados, desta vez, ao universo homoerótico e à arte greco-romana. Serviço - Walter Goldfarb. De terça a sábado, das 11h às 19h. Galeria Thomas Cohn. Avenida Europa, 641, em São Paulo, tel. 3083-3355. Até 25/5. Abertura nesta terça às 19h

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