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Pintor argentino exibe obras de projeto realizado com adolescentes

Livro de Juan José Balzi relata experiência em oficinas de São Paulo e do ABC entre 1994 e 1998

Por Camila Molina - O Estado de S. Paulo
Atualização:

"Como fazer arte sem ter absolutamente nada?" Entre 1994 e 2004, o pintor argentino Juan José Balzi ministrou em São Paulo e no ABC oficinas de pintura e grafite para adolescentes carentes, que transformaram não apenas os meninos, mas ele próprio. "Sou pintor com base acadêmica e era difícil me soltar", conta Balzi, que inaugura nesta quarta-feira, 5, no Instituto Cervantes, obras desse processo de pedagogia artística e lança o livro Meninos de Arte, no qual apresenta sua experiência e sua metodologia que já se espalhou, sendo inclusive adotada, como ele conta, até na Alemanha.

Balzi, hoje com 79 anos, mudou-se para São Paulo em 1958, mas por mais de duas décadas viveu na Europa realizando trabalhos acadêmicos. Quando convidado, em 1994, pela Secretaria de Estado da Cultura paulista para promover um projeto de arte-educação com meninos de rua, recolhidos pela Pastoral do Menor na região da Luz, o pintor voltou ao Brasil acreditando que o grafite e sua expressão no espaço urbano pudessem ser o principal caminho a tomar nessas atividades. Entretanto, viu que era necessário e possível fazer uma ação maior, de formação de uma "sensibilidade" em seu grupo de "meninos de arte" com idade entre 10 e 17 anos. "O ser humano é verdadeiramente educado nessa época, quando não tem imposições e quando ainda não é considerado adulto pela sociedade, que começa a cobrá-lo", diz Balzi. "Na adolescência, podem aprender como devem ser as coisas e não como são."

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Trabalhar com imagens - principalmente, retiradas da mídia - era o ponto de partida de seu projeto de realizar a arte "sem ter absolutamente nada" - ou com muito pouco, como pedaços de carvão, tinta látex, papéis e páginas de jornais e revistas. "Com a composição ensina-se a noção de ordem como necessidade vital, não como imposição." Apresentar os princípios cromáticos para novos artistas também sempre foi algo fundamental. "Todos eles aprenderam a fazer cores a partir do vermelho magenta, do amarelo e do azul ciano", explica Balzi, divertindo-se com o trocadilho que os meninos adotaram para brincar com o professor: "Falavam que eram as três cores ‘bálzicas’" - e não primárias.

Como se pode ver na exposição que ficará em cartaz no Instituto Cervantes, o pintor levou a experiência expressionista de sua arte, com ênfase no gesto, para as oficinas que ministrou entre 1994 e 1998 em São Paulo e depois em Santo André. A mostra mistura, sem hierarquia, tanto obras criadas por Balzi como pelos meninos - hoje, adultos. As figuras, solitárias e com seus rostos encobertos nas pinturas do argentino, aparecem assim também nas colagens e pinturas dos alunos. Mais ainda, há fotografias que registram murais e painéis grafitados pelos adolescentes em espaços públicos. Na exibição, enfim, Balzi apresenta o projeto de uma "arte única" na qual é possível desaparecer a fronteira entre o erudito e o popular.

MENINOS DE ARTEAutor: Juan José Balzi. Editora: Nova Alexandria (132 páginas, R$ 38).

JUAN JOSÉ BALZIInstituto Cervantes. Avenida Paulista, 2.439, tel. 3897-9600. De 6/12 a a 31/1. Nesta quarta-feira, 5, 19h, lançamento do livro Meninos de Arte.

 

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