Pinker disseca mecanismos da linguagem

Em O Instinto da Linguagem, que está saindo no Brasil, cientista discute a evolução da capacidade humana de se comunicar com palavras, seu aprendizado e seu processamento pelo cérebro

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Por Agencia Estado
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Publicado nos Estados Unidos em 1994, o livro O Instinto da Linguagem, do cientista Steven Pinker, se tornou um clássico da literatura de divulgação científica, e agora está sendo publicado no Brasil pela editora Martins Fontes. O fato de escrever para um público amplo e leigo não significa que Pinker, canadense de 48 anos especializado em mente e linguagem e pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), se limite a expor em estilo acessível descobertas e conclusões consagradas na área que escolheu elucidar. Ao contrário, Pinker defende idéias próprias e polêmicas, com graça, ironia e certa dose de agressividade. A principal dessas idéias já vem expressa no título do livro. Pinker não acredita que a linguagem seja um conhecimento que se adquire, mas uma atribuição inata, "uma faculdade psicológica, um órgão mental", enfim, um instinto. Para o cientista, adepto da psicologia evolucionista, que amplia as teorias de Charles Darwin (1809-1882) para campos que o naturalista inglês não chegou a esmiuçar, a linguagem é "uma adaptação biológica para transmitir informação" desenvolvida pelos seres humanos no processo de seleção natural. Ela equivale aos sonares nos morcegos e à capacidade de fabricar e tecer teias nas aranhas. Sob a luz da ciência cognitiva _ uma disciplina com cerca de 35 anos de existência que, nas palavras de Pinker, "reúne ferramentas da psicologia, da ciência da computação, da lingüísitca, filosofia e neurobiologia para explicar o funcionamento da inteligência humana" _ , o pesquisador apresenta em O Instinto da Linguagem um passo a passo de seus estudos: como a linguagem evolui, como as crianças a aprendem, como o cérebro a processa. Para isso, Pinker usa exemplos do dia-a-dia, como nesta frase presente na introdução do volume: "Acreditamos que as crianças aprendem a língua materna imitando a mãe, mas quando uma criança diz ?Eu se sentei? ou ?Eu não cabo aí dentro? certamente não é uma imitação." Ele conclui: "A naturalidade, a transparência, o caráter automático são ilusões, que escondem um sistema de grande riqueza e beleza." Além de Darwin, Pinker admite a influência do lingüista Noam Chomsky, de quem desenvolve várias idéias originais e a quem dá o crédito por ter atacado "aquilo que ainda é um dos alicercers da vida intelectual do século 20 _ o ?Modelo Clássico das Ciências Sociais?, segundo o qual a psique humana é moldada pelo ambiente cultural". Outras idéias consagradas combatidas por Pinker são a de que a linguagem determina o pensamento e de que a soletração da língua inglesa (e de qualquer outra) não segue nenhuma lógica. Com o lançamento de O Instinto da Linguagem, o leitor brasileiro passa a ter acesso direto à obra mais importante de Pinker, que se junta a seu outro livro mais conhecido (e posterior), Como a Mente Funciona, publicado em 1998 pela Companhia das Letras. Serviço O Instinto da Linguagem. Martins Fontes, 627 págs., R$ 48.

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