Pinacoteca reúne Aleijadinho e Mestre Piranga

A arte de dois dos maiores mestres do barroco brasileiro será exibida lado a lado pela primeira vez em São Paulo, a partir deste sábado, na Pinacoteca de São Paulo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A arte de dois dos maiores mestres do barroco brasileiro será exibida lado a lado pela primeira vez em São Paulo, a partir deste sábado, na Pinacoteca de São Paulo. Ao menos, essa é a primeira oportunidade em que um lote tão expressivo de obras de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, emparelha-se com outro igualmente expressivo de Mestre Piranga, misterioso escultor de Minas Gerais. São 56 obras, 46 de Aleijadinho e 10 de Piranga, todas de uma mesma coleção: do empresário paulista Renato Whitaker. Para se ter uma idéia do valor desse acervo, que o colecionador sempre usa o termo "inestimável" para avaliar, é só lembrar que, quando as peças foram expostas recentemente no Museu de Belas Artes de Buenos Aires, o valor da apólice de seguro foi de US$ 20 milhões. Só existem cerca de 200 imagens conhecidas do Aleijadinho, com autoria determinada por especialistas. Há outras tantas sob exame, com atribuição de historiadores e experts, mas é uma obra mal catalogada. O ineditismo cerca a exposição, que tem curadoria de Dalton Sala. Será a primeira vez, por exemplo, que será mostrada na capital paulista a rara imagem de Santa Tereza de Ávila, atribuída ao Aleijadinho, desde sua aquisição por Whitaker há cerca de um ano, de outro colecionador particular. Mas é o outro artista da mostra, o Mestre Piranga, quem chama mais atenção. Suas dez obras que serão exibidas na Pinacoteca são o segundo maior lote reunido que se tem notícia no Brasil. E quem foi Mestre Piranga? Ninguém sabe. Enigmático - O escultor barroco Mestre de Piranga, que viveu no século 18 em Minas Gerais, na região próxima a Ouro Preto, é talvez o mais desconhecido e enigmático dos artistas do período. Ninguém conhece sua identidade. "Sabe-se apenas que ele trabalhava com o mesmo sistema do Aleijadinho, com um ateliê e aprendizes, que o ajudavam em sua extensa obra." Michelangelo, por exemplo, não dava nada para ninguém fazer. Fazia tudo sozinho. Mas tanto Aleijadinho quanto Mestre Piranga "delegavam" aos seus seguidores trabalhos e encampavam muitas obras na Minas daquela época. O nome Piranga foi adotado para o mestre-escultor porque sua base de operações foi a pequena cidade mineira de Piranga (180 quilômetros a sudeste de Belo Horizonte). Os historiadores supõem que manteve intenso diálogo com os artistas de sua época, como Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor Mestre Athayde - todos tinham ateliês e equipes de trabalho numa mesma região. Isso é demonstrado, por exemplo, na feitura do edifício e da decoração da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, na zona rural de Piranga, uns 10 quilômetros de distância da cidade. "A idéia é exatamente chamar a atenção sobre um artista bom e desconhecido", diz o colecionador Whitaker, que já chegou a trocar uma peça de Aleijadinho por duas de Mestre Piranga. Mas a fama do escultor de Piranga já vai se espalhando. Imagens de autoria do mestre são encontradas de forma esparsa em coleções privadas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Uma obra sua está imensamente valorizada, alcançando preços entre US$ 30 mil e US$ 100 mil. Mas não existem à disposição no mercado. Peças dele, artista que o Brasil conhece tão pouco, foram expostas em Paris (no Petit Palais), em 2000, e no Museu Guggenheim de Nova York, há alguns meses. Serviço - Aleijadinho e Mestre Piranga: Processo de Atribuição e História da Arte - Imagens da Coleção Renato Whitaker. De 3.ª a dom., das 10 h às 18 horas. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2. tel. 229-9844. Até 19/1.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.