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Pinacoteca mostra arte espanhola do século XX

Por Agencia Estado
Atualização:

Não se pode falar em excelência da arte sem mencionar a Espanha, país que deu ao mundo alguns de seus mais brilhantes artistas. Esta afirmação, que serve para vários períodos históricos, também se aplica ao século que se encerra, que nos legou o vigor do modernismo e o esgarçamento de uma visão coletiva da arte, com uma conseqüente sobreposição de modismos e vanguardismos. Para compreender melhor o que foi o século XX para a arte espanhola, nada melhor do que visitar a exposição "De Picasso a Barceló", que será inaugurada amanhã à noite, para convidados, e na terça-feira, para o público, na Pinacoteca do Estado. Com pouco mais de cem obras selecionadas entre as mais de 15 mil peças reunidas no acervo do Museu Reina Sofia, da Espanha, a mostra propõe um resumo dos melhores momentos de quase cem anos de produção. O ponto de partida desse passeio é Pablo Picasso. Sua importância é tamanha que ele também é o ponto de partida para o início da coleção do Reina Sofia, que só tem obras de artistas nascidos depois de 1881 (ano em que o artista nasceu). A única exceção é o escultor Julio González, um dos expoentes da escultura moderna, que nasceu em 1876. E ao longo de toda a mostra é possível sentir os ecos de sua arte, acompanhar a necessidade daqueles que o sucederam de dialogar com o autor de "Demoiselles d´Avignon", tela emblemática que inaugura o cubismo. Infelizmente, só foram incluídas na exposição - concebida especialmente para Buenos Aires, onde ficou em cartaz até o dia 15, e São Paulo - duas telas de Picasso. A grande estrela do evento é "Cabeça de Mulher", um retrato cubista de sua segunda mulher, Fernanda, que acaba de ser adquirido pelo Reina Sofia por US$ 10 milhões e ainda não foi exibido em Madri. Para suscitar a inveja dos museólogos brasileiros, esse valor equivale a aproximadamente a dotação orçamentária anual destinada pelo governo ao museu para realizar aquisições - que normalmente se dividem entre obras históricas e contemporâneas, fato que garante o dinamismo e a renovação de uma instituição da importância do Reina Sofia. Há também na exposição quatro impressionantes desenhos, preparatórios para seu célebre mural "Guernica". Os três primeiros são coloridos e o último é preto-e-branco, simbolizando a descoberta feita pelo artista do impacto dramático que significou a ausência de cor num dos retratos mais violentos da guerra nos tempos atuais. Ao lado de Picasso estão outros mestres do cubismo espanhol, como Juan Gris e María Blanchard, uma das poucas mulheres representadas na exposição. Também fazem parte desse bloco os escultores Pablo Gargallo e Julio González que, segundo a curadoria, estão entre os grandes renovadores da escultura mundial. As telas de Gris presentes na exposição fazem parte da coleção do grupo Telefônica, que aceitou patrocinar a exposição no Brasil e na Argentina, aprovando o projeto de divulgação da arte espanhola no exterior apresentado pelo museu espanhol. É curioso notar que a grande maioria dos artistas espanhóis dessas primeiras décadas precisou deixar o país para desenvolver seu potencial, ajudando a transformar Paris na capital inquestionável das artes. A exposição não leva em conta, no entanto, a natureza geográfica da obra e sim seu vínculo com a cultura e o ambiente - mesmo que distante - espanhol. Tanto que há dois mestres latino-americanos entre os selecionados: Rafael Barradas e Joaquín Torres-García, nomes que segundo a curadora María José Salazar, não poderiam ficar ausentes por causa de sua grande importância no cenário espanhol nas décadas de 20 e 30. "Nós os vemos como espanhóis", afirma a comissária do Reina Sofia. Depois da sala dedicada ao cubismo, a outra grande atração da exposição é o núcleo surrealista, que reúne obras Dalí, Miró e outros três autores. Do primeiro há duas telas, uma com suas típicas construções oníricas, intitulada "O Enigma sem Fim", e uma outra que pouco tem de Dalí. "Quatro Mulheres de Pescadores de Dadaqué", de 1928, de inclinação abstrata, deve surpreender o público acostumado com seus relógios derretidos e telas realizadas com um grau de detalhismo impressionante. A seleção de Miró é mais ampla, começando com uma pintura de 1925 e terminando com a escultura "O Rei Guerreiro" construída a partir da assemblage de diferentes elementos, como uma colher de pau, um pedaço de porta velha e uma roda de metal. Infelizmente, o espaço da exposição é exíguo para uma seleção tão ampla quanto aquela feita por María José, fazendo com que as esculturas de Miró fiquem um pouco apertadas, não dando ao público o recuo necessário para admirá-las. Serviço - "De Picasso a Barceló". De terça a domingo, das 10 às 17 horas. R$ 5,00. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, tel. 229-9844. Até 16/9. Abertura amanhã, às 19h30, para convidados. Patrocínio: Telefônica.

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