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Pinacoteca exibe mostra permanente de José Pedrosa

O museu faz uma seleção de trabalhos do artista que morreu na semana passada e foi um dos expoentes da escultura brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

Morreu na semana passada o escultor mineiro José Pedrosa, um dos expoentes da arte moderna brasileira que desenvolveu ao longo de seus 87 anos de vida uma importante produção, com destaque para os trabalhos realizados em parceria com expoentes da cultura brasileira do século 20, como Oscar Niemeyer, Athos Bulcão e Ceschiatti, em projetos emblemáticos como o complexo da Pampulha e Brasília. É no museu de Belo Horizonte que se encontra sua mais célebre obra, conhecida como Pampulha (uma homenagem ao local onde ela se encontra), ou Figura Alada. Como se lê em texto divulgado pelo Museu da Pampulha, essa ?figura feminina envolta num véu, em seu movimento alado e etéreo, é uma síntese que permeia entre a tradição e a modernidade, entre o barroco e o moderno?. Ele também é o autor da cabeça de Juscelino Kubitschek instalada na Praça dos Três Poderes. Mas quem estiver interessado em conhecer um pouco mais o trabalho desse artista importante, mas pouco reconhecido pelo grande público não precisará viajar para Belo Horizonte ou Brasília. Graças a uma grande doação recebida no ano passado, a Pinacoteca do Estado possui um conjunto de quase 30 esculturas do artista, que estão exibidas na mostra permanente do acervo, no segundo andar no museu. ?Ele é um artista paradigmático, que surgiu a partir da consolidação do modernismo?, afirmou o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo, lembrando com orgulho a possibilidade que o público tem de ver no museu a parcela mais importante de sua produção. Além de uma série de belos estudos de nus femininos ?, segundo Lélia Coelho Frota, são dele algumas das mais belas representações da nudez feminina, mesclando atemporalidade e sensualidade ?, a mostra tem um exemplar (em menores dimensões) da Pampulha - Como essas obras, realizadas principalmente entre as décadas de 40 e 60, parecem indicar, Pedrosa não é um revolucionário. Sua obra preserva a herança clássica, greco-romana, que recebeu nos primeiros anos de sua formação. Mas absorveu também com grande vigor as lições aprendidas em sua estada em Paris, nos anos 40, revelando uma forte influência de mestres franceses, como Maillol e, evidentemente, o expressionismo de Rodin. Como teria dito Sylvio de Vasconcelos, sua arte não confunde classicismo com academicismo. Mas peças como Dois Nus Femininos Entrelaçados revelam de forma inquestionável a grandeza de sua obra escultórica, que em alguns momentos é equiparada à de outros mestres brasileiros da primeira metade do século 20, como Ceschiatti, Brecheret e Bruno Giorgi. Sua relação com o modernismo é sutil, estando mais relacionada com um pensamento arquitetônico, do uso público e urbano da obra de arte. Pouco se fala de sua produção pós-anos 50, quando ele decide aderir ao abstracionismo, influenciado como tantos outros pela criação da Bienal de São Paulo. Além de seu trabalho artístico, Pedrosa desempenhou um importante papel no cenário cultural brasileiro, tendo sido amigo de figuras importantes como Milton Dacosta, Maria Leontina, Krajcberg, Pancetti, Antonio Bandeira e Amílcar de Castro, com quem chega a dividir um ateliê no Rio de Janeiro, nos anos 50. Também convém mencionar seu importante trabalho no campo do desenho, como as delicadas e solitárias paisagens da Serra do Cipó. ?Em Pedrosa, o desenho é respiração contínua, indissociável do fazer arte?, escreve Lélia Coelho Frota no livro A Pampulha Revisitada, escrito por ocasião de uma exposição itinerante do artista realizada em 1999. De saúde frágil, ele foi vítima de uma parada cardíaca, mas continuava trabalhando apesar da idade avançada. Segundo comunicado divulgado pela família, ele estava concluindo a escultura O Anjo, peça com a qual finalizaria o conjunto arquitetônico da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha.

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