Pina Bausch chega para temporada no Brasil

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Por Agencia Estado
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Uma das mais importantes coreógrafas da atualidade, a alemã Pina Bausch volta ao País para apresentar um trabalho especial: uma peça baseada no Brasil e no modo de vida de seus habitantes. Sem título, a peça é o resultado da rica convivência de Pina com os brasileiros - nos cinco dias de pesquisa que realizou em Salvador no ano passado, além de suas visitas anteriores em vários anos. A peça estréia amanhã no Teatro Alfa e fica em cartaz até segunda-feira. Essa não é a primeira vez que a coreógrafa cria um espetáculo a partir de pesquisas feitas em outro país. Essa idéia surgiu em 1986, a convite do Teatro Argentina, de Roma. A produção foi Viktor e anos mais tarde nasceu O Dido. No ano passado, Pina trouxe a São Paulo Masurca Fogo, inspirada em Portugal e Cabo Verde. Nunca o foco é a geografia, mas sim os costumes e hábitos que ultrapassam os limites locais. Na peça sobre o Brasil, Pina lida com os sentimentos. "O Brasil causa impressões muito fortes, o que não facilita no momento de montar uma coreografia", explica Pina, em entrevista na quarta-feira. "A primeira coisa que fizemos foi colher detalhes do cotidiano, emoções, aspectos que chamaram a atenção, aquilo que era importante, interessante." A diretora da companhia Tanztheater Wuppertal fica tímida ao explicar sua obra. "Prefiro que as pessoas vejam, avaliem e tirem suas conclusões, uma vez que cada um, ao assistir, terá uma opinião diferente no final. Difícil descrever porque a peça ainda está em aberto", diz. Desde a estréia em maio na Alemanha, o trabalho já sofreu modificações. "A cada apresentação discutimos, modificamos alguma coisa. As opiniões são diferentes, o que faz com que o processo de criação seja como um quebra-cabeças". E de fato é. Após a pesquisa de campo, os bailarinos devem responder a uma série de perguntas sobre aquilo que viram. Ela anota, volta à carga com outras questões, os bailarinos criam movimentos registrados por uma câmera de vídeo. "Muitos gestos saem dessas perguntas. Ela nos obriga a pensar, criar formas diferentes de movimentação, buscamos sempre a criatividade", conta a bailarina brasileira Regina Advento. "Para exemplificar: ela pediu que cada um inventasse um movimento para cada letra da palavra samba; todas as vezes que fazíamos, saía algo diferente." Cada detalhe - Foram ditadas as palavras Amazonas, candomblé, Bahia, floresta tropical, cobra, entre outras. Cada artista trouxe a sua proposta e ela, aos poucos, organizou. "Nós, a companhia, analisamos cada detalhe, construímos juntos. Eu e Peter Pabst - o coreógrafo - assistimos a uma série de vídeos e filmes sobre o Brasil. Juntei uma série de informações. O início sempre é complicado, porque há uma série de caminhos e possibilidades, assusta utilizar os temas de maneira errada." Os primeiros passos surgem como um caldeirão de idéias que precisam ser filtradas. "Tudo deve ser analisado, uma música pode mudar todo o sentido dado à coreografia, por essa razão sempre ocorrem mudanças", conta. "Eu adio ao máximo o começo, sinto medo deste início, sei que preciso começar porque o espetáculo tem data para a estréia e eu preciso apresentá-lo." O público encontrará um trabalho que destaca a dança. "Essa coreografia está repleta de movimentos, o que é muito importante quando se fala de Brasil." O resultado da estada em Salvador deixou a alemã maravilhada com aspectos que influenciaram a pesquisa cênica. "A mistura de culturas e etnias que vi na Bahia me impressionou. Na Alemanha, não é muito comum. Aqui as pessoas se tocam, dançam juntas, o clima reduz o receio da proximidade. Nos países frios, ficamos fechados em casa, o que dificulta a movimentação", avalia a diretora. Outro aspecto muito importante no trabalho de Pina Bausch é o respeito. "Conheço o País, colhi uma série de informações, sei da disparidade social, das dificuldades em viver aqui, da violência, mas também conheço a cultura. Sei da situação dos índios, mas não poderia utilizar isso de maneira leviana, de forma errada", declara. A convivência com Carlinhos Brown foi um fator decisivo. "Em um documentário que vi, o músico se referia à visão que o Brasil tem no exterior: carnaval e violência. Ele disse que as pessoas se esquecem da riqueza cultural que há." O cenário de Pabst para o espetáculo valoriza as paredes brancas, justamente para que sejam projetadas cenas dessa rica diversidade nacional. Bate-papo - A coreógrafa Pina Bausch será também a convidada principal durante bate-papo promovido pelo Instituto Goethe no próximo domingo, às 11h30. No mesmo horário, também será aberta uma exposição com 23 retratos da coreógrafa e de seus bailarinos de Wuppertal, realizados pela fotógrafa norte-americana Peggy Jarrel Kaplan. A exposição permanecerá até 29 de setembro, de segunda a quinta das 9h às 22h, sexta até as 20h30 e sábado até as 16h30. Os retratos foram feitos em Veneza e nos Estados Unidos entre 1985 e 1999 e incluem bailarinos veteranos, como Mechthild Grossman, Dominique Mercy, Jan Minarek e também da maior parte dos integrantes da atual companhia. A duração do projeto reflete a passagem do tempo, englobando as mudanças na aparência dos bailarinos com o passar dos anos e o desenvolvimento da arte da fotógrafa. Com economia de meios, ela enfoca rostos em descanso e não corpos em movimento. Peggy Jarrell Kaplan, radicada em Nova York, vem fotografando bailarinos e performers há mais de 20 anos. Interessada em coreógrafos que exploram novos movimentos da dança, Kaplan já fotografou praticamente todos os principais coreógrafos que moldaram os caminhos da dança contemporânea. Seu trabalho integra os acervos do Museu de Arte Moderna e do Museu Metropolitano, em Nova York, e do Museu da Dança em Estocolmo. Pina Bausch. Sexta, sábado e segunda, às 21 horas; domingo, às 18 horas.De R$ 40,00 a R$ 150,00. Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-400 ou 0800-558191. Até 3/9. O Instituto Goethe fica na Rua Lisboa, 974, tel: (11) 3088-4288. A exposição terá entrada franca.

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