'Pietà', de Kim Ki-Duk, leva Leão de Ouro em Veneza

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Por AE
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Havia três ou quatro filmes em condições de vencer o Festival de Veneza. Um deles, "Pietà", do coreano Kim Ki-Duk levou o Leão de Ouro. "The Master", do americano Paul Thomas Anderson, ganhou o Leão de Prata de melhor direção e ainda dividiu a Coppa Volpi de ator entre seus protagonistas Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix. "Après Mai", de Olivier Assayas ficou com o prêmio de roteiro. E "La Bella Adormentata", do italiano Marco Bellocchio, deu apenas o prêmio Marcello Mastroianni, de ator estreante, a Fabrizio Franco, lembrado também por sua atuação em outro concorrente italiano, "È Stato il Figlio". O Prêmio Especial do Júri foi para o anticlerical "Paraíso: Fé", do austríaco Ulrich Reidl. A Coppa Volpi de atriz ficou para Hadas Yaron, pelo inexpressivo israelense "Fill the Void". Duas decisões contestadas pelo público que seguia a premiação. Fechando a lista de contemplados, "È Stato il Figlio", de Daniele Ciprì, teve sua fotografia reconhecida com o prêmio de melhor contribuição técnica. E foi só. São assim as premiações em Veneza. Poucos troféus. E, às vezes, muita intriga e confusão. Desta vez não foi diferente. Já no palco da Sala Grande, a principal do evento, percebia-se que algo não ia bem. Tenso, o presidente do júri, o diretor norte-americano Michael Mann ("Miami Vice") trocou as bolas e inverteu os vencedores de Leão de Prata (direção) e Prêmio Especial do Júri. Os troféus tiveram de ser destrocados ainda no palco, sob constrangimento geral. Depois, na tradicional coletiva de imprensa que se segue à cerimônia, houve novos momentos de saia justa. Em especial quando uma jornalista perguntou ao jurado Matteo Garrone (de "Gomorra" e "Reality") o porquê da pífia premiação dos concorrentes italianos. Garrone estava prestes a responder quando foi interrompido por Mann, dizendo que o júri não discutiria seus critérios internos e que nacionalidades não foram cogitadas nas escolhas. Houve outra tentativa de extrair alguma coisa de Garrone e Mann, de novo, não deixou. Foi apoiado pela atriz Samantha Morton, também jurada, que ainda considerou as perguntas "indelicadas".O caráter autoritário de Mann ficou claro na resposta que deu a um jornalista. Perguntado por que haviam elegido Hadas Yaron melhor atriz, limitou-se a responder: "Porque a consideramos a melhor atriz". Sorrisos amarelos dos outros membros do júri. O homem é um caubói e não estava lá para dar satisfações a ninguém. Na própria noite de premiação, a influente revista Hollywood Reporter, soltou em seu site matéria afirmando que o júri, inicialmente, queria dar o Leão de Ouro a "The Master", de Paul Thomas Anderson. Mas, surpreso com a regra de Veneza, que impede o acúmulo do Leão de Ouro e outros prêmios pelo mesmo filme, teria se irritado e resolvido premiar Kim Ki-Duk. Pode ter acontecido isso, mas não faz muito sentido. Não seria a primeira vez que essa regra é contestada. Em 2009, Tarantino, então presidente do júri, disse que essa disposição teria de ser mudada. Não foi. Mas um corpo de jurados desconhecer a regra seria a mesma coisa que dois times de futebol profissional ignorarem que não se pode colocar a mão na bola. Seja como for, as fofocas ferveram noite adentro e ainda devem se fazer ouvir pelos próximos dias, até o resultado ser digerido.Alheio à polêmica, Kim Ki-Duk comemorou e muito o seu Leão. Chegou a cantar no palco, enquanto os jurados e público o ouviam com caras de tacho. Lembrou que já apresentara outros filmes em Veneza e agradecia este festival por tê-lo tornado conhecido no mundo ocidental. "Talvez esse prêmio facilite um pouco a divulgação do meu trabalho também em meu país", disse, emocionado. Durante sua estada em Veneza, Kim Ki-Duk lembrou várias vezes que era mais conhecido na Europa que na Coreia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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