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'Pichação é ato subversivo, urbano e anônimo'

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Por Redação
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Em 2008, um grupo entrou no Pavilhão da Bienal, no primeiro dia da 28.ª edição do evento, munidos de sprays. Picharam paredes, pilares e corrimões do segundo andar do prédio, o piso desprovido de obras da que ficou apelidada "Bienal do Vazio". No dia seguinte, a instituição apagou a intervenção e, agora, a 29.ª Bienal incorporou o grupo, identificado na lista como Pixação SP, para participar da mostra ? não pela ação da pichação, mas por meio de fotos e vídeos. O Estado falou com o arquiteto, mestre pela Unesp e doutor pela USP, Ademir Pereira dos Santos, sobre a questão, da qual é especialista.Como você vê a decisão da curadoria desta edição de convidar os pichadores do episódio da edição passada para integrar agora a mostra?Em busca de legitimação, a instituição busca ancoragem na realidade. A pichação tem conseguido seu espaço, principalmente a paulista, fora do País principalmente. Acontecer lá fora, só assim se vira artista (e notícia) por aqui. Mas a marginalidade e o anonimato são inerentes a esta modalidade extremamente metropolitana. Tem sido um campo fértil para bons artistas gráficos se projetarem. Mas o que é essencial à pichação jamais se poderá institucionalizar, que é o ato subversivo, urbano e anônimo que a define. Quando se adentra o espaço museológico há uma transformação. Integrar-se à Bienal será outra coisa. Será um simulacro. Nem mesmo o curador tem claro como isto será feito. Por definição será um arremedo.O tema desta 29ª Bienal será a questão sobre arte e política. O que pensa dele e da inclusão da pichação na mostra?É notável o esforço dos curadores e profissionais envolvidos. Impossível na perspectiva colocada por eles, a "política da arte", não considerar a pichação e as relações estabelecidas com a vida e o fato urbano. De fato, trata-se de uma ação política e até estética. Mas tenho dúvidas se a função da Bienal é "nos fazer pensar o entorno de maneira diferente" (segundo o curador Moacir dos Anjos em entrevista). Não consigo distinguir as transformações da arte contemporânea nos últimos 50 anos das mutações que envolvem o acesso à cultura e as crises do próprio formato de uma megaexposição. A pretensão de abarcar e dar conta dessa complexidade coloca-se como um falso problema, que facilmente nos leva a formatos e abordagens que ampliam o abismo que separa artistas, instituições culturais e o público. / C.M.

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