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Picasso esperava reconhecimento também como escritor

Mestre da pintura escreveu poemas que mesclavam intimidade com posições políticas

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Por Redação
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Pablo Picasso, grande nome da pintura e das artes do século XX, também gostaria de ser lembrado para a posteridade como um nome importante da literatura. Nos anos 50, Picasso confessou a um amigo, o fotógrafo Roberto Otero, frase que marcou esse desejo: "Creio que minha obra como escritor é tão extensa como a de pintor.  Materialmente, dediquei o mesmo tempo a ambas atividades. Quem sabe algum dia, quando eu desaparecer, serei descrito nos dicionários de tal forma. Pablo Ruiz Picasso: poeta e autor dramático espanhol", conta o jornal espanhol El País. O episódio é contado por Enrique Mallén, pesquisador que se dedica ao estudo da obra literária de Picasso e propulsor do site On-Line Picasso Project, página biográfica do pintor.  Mallén, professor universitário da Sam Houston State University, nos Estados Unidos, ele explica que os poemas de Picasso são como quadros cubistas: tem distintas interpretações segundo cada linha lida, são textos abertos. "Em termos literários, Picasso me parece fascinante. Suas poesias escondem múltiplos significados; é inovador, de vanguarda, uma mina a ser explorada". O periódico espanhol descreve a escrita de Picasso como se desafiasse em ritmo de tourada todas as convenções gramaticais e ortográficas, pintando com as palavras e escrevendo com cores. A escrita era tida para Picasso como uma válvula de escape frente uma situação pessoal convulsa, em momentos de estancamento criativo e durante um período histórico que anunciava tormentas. Em 1935, ele estava se divorciando da bailarina Olga Koklova, não podia pintar, estava deprimido. Supõe-se que seu primeiro poema é dessa época. Marie-Laure Bernadac dedicou nove anos de sua vida à pesquisa do Picasso escritor. Ela manteve contato com os herdeiros do pintor espanhol e recompilou velhos exemplares da revista Cahiers d´Art. Foi encarregada dos arquivos da pinacoteca do que seria o Museu Picasso de Paris e foi a primeira a compilar o material literário de Picasso. Em 1989, ela editou a obra de referência dos escritos de Picasso, Écrits (Gallimard), com 340 textos poéticos e duas obras de teatro. "Sua poesia é muito confidencial, muito privada, esconde muitas coisas. Fala se sua vida com uma liberdade total, faz alusões terríveis a sua vida privada, a sua infância, mesclada a reflexões políticas. É apaixonante", diz ela.

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