Petrobras reformula patrocínio cultural

Empresa passará a eleger uma área por vez para aplicação de recursos, e a primeira será a arte contemporânea brasileira, que receberá R$ 4 milhões

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Por Agencia Estado
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Uma das maiores patrocinadoras do setor cultural no País decidiu mudar os rumos. E para melhor. Na segunda-feira, será anunciado, no Parque do Ibirapuera, o Programa Petrobras Artes Visuais, uma radical mudança nas diretrizes de patrocínio da empresa para os próximos três anos. Se antes os investimentos em projetos culturais eram pulverizados, agora os recursos serão aplicados em uma área por vez. E a escolhida para abrir o novo programa foi a arte contemporânea brasileira, que será beneficiada com aproximadamente R$ 4 milhões a partir de 2001. "O programa será um marco para nós e para o meio cultural brasileiro", entusiasma-se o gerente de patrocínios da Petrobras, Sérgio Bandeira de Mello. "A idéia é que o programa se transforme num grande movimento no futuro", completa. A profundidade e abrangência da iniciativa realmente justificam o entusiasmo de Bandeira de Mello. Diferentemente das ações que beneficiam o setor de artes visuais - que investem apenas em grandes exposições -, o programa da Petrobras é composto por cinco segmentos: produção artística, reflexão e organização de informações, exposições, educação e formação de acervo. O programa marca o "divórcio" da empresa com as grandes mostras internacionais, como as de Monet e Salvador Dalí e Rodin. "Nosso planejamento de comunicação a partir de agora será baseado no triângulo brasilidade, qualidade de vida e competitividade", informa o gerente. Durante os três anos de programa, porém, outras áreas da cultura serão beneficiadas. "As artes visuais são apenas a primeiro parte; ainda este ano devemos anunciar os programas de artes cênicas, patrimônio histórico e cinema." A intenção inicial da Petrobras era lançar o programa em abril, simultaneamente à Mostra do Redescobrimento, cujo módulo de arte contemporânea é patrocinado pela empresa. No entanto, em janeiro ocorreu o rompimento do duto submarino de uma refinaria da empresa na Baía da Guanabara. O vazamento de milhões de litros de óleo no mar provocou um dos maiores desastres ecológicos do País e arranhou profundamente a imagem da Petrobras. "Com o acidente, interrompemos as ações culturais para arrumar a casa; não seria interessante divulgar o projeto no meio da confusão", explica Bandeira de Mello. O programa de artes visuais vai ajudar a reparar a imagem da Petrobras perante a opinião pública, mas não foi criado especificamente para tal propósito. Afinal, a empresa sempre investiu em cultura, educação e meio-ambiente. "Ano passado, a soma de patrocínios em projetos das duas primeiras áreas chegou a R$ 25 milhões", estima Bandeira de Mello. Uma das particularidades da nova iniciativa da Petrobras são as pessoas responsáveis pela elaboração do programa. As figuras centrais são os curadores Paulo Herkenhoff e Ana Belluzzo, consultores do programa e nomes incontestáveis no meio artístico. A empresa de consultoria Articultura foi responsável pela elaboração do projeto. "Nós sempre recebemos muitos projetos, que eram selecionados por pessoal interno da empresa; e agora serão eleitos profissionais especializados para cada edital do programa, que serão substituídos a cada ano", esclarece o gerente. Flexibilidade - A área educacional será um dos principais focos da ação, que será estendida a todo o País e, possivelmente, ao exterior. "Queremos fazer uma confusão cultural no País, saindo do eixo Rio-São Paulo e levando exposições para instituições com poucos recursos, sempre respeitando as disparidades regionais", antecipa Bandeira de Mello. Ele diz que a escolha dos projetos a serem contemplados vai depender da carência de cada área, o que será avaliado durante a análise das propostas. Isso significa que haverá uma flexibilidade de critérios no decorrer dos três primeiros anos do programa. Uma prévia dos próximos projetos bancados pela Petrobras vai ocorrer este mês, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), com a mostra retrospectiva do artista plástico Cildo Meirelles. Está confirmada também uma individual de Antônio Dias na Bahia (agosto), no Rio (dezembro) e São Paulo (março). Artistas, produtores culturais, pesquisadores, historiadores de arte e outros profissionais do setor que se interessem em participar do Programa Petrobras Artes Visuais devem aguardar pelos editais que serão lançados até o fim do ano.

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