PERFIL-Oscar Niemeyer, 100 anos, persegue arquitetura poética

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Por FERNANDA EZABELLA
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Oscar Niemeyer desenhou marcos da arquitetura mundial sem nunca deixar de lado a poesia das formas inusitadas, as curvas tropicais do Rio de Janeiro e o apego à ideologia comunista. O arquiteto carioca, que completa 100 anos no dia 15 de dezembro, ficou famoso nos anos 1940 pelos projetos que se tornaram cartão-postal de Belo Horizonte, no bairro da Pampulha, e, dez anos mais tarde, com a construção dos edifícios da nova capital federal, em Brasília. Hoje em dia, apesar da idade avançada e de algumas internações, Niemeyer continua a trabalhar. Entre seus atuais projetos está o Centro Cultural Internacional Niemeyer de Avilés, sua primeira obra na Espanha. Ele também irá comandar em 2008 a reforma do Palácio do Planalto. De olho nas formas barrocas do Brasil colonial e contra a postura rígida das escolas do pós-guerra, Niemeyer perseguiu desde o início uma arquitetura orgânica, aliada às formas da natureza, tomando a dianteira do modernismo brasileiro. "O Pão de Açúcar foi para Niemeyer o que a montanha Santa Vitória foi para Cézanne: uma imagem da permanência da natureza, uma obsessiva presença formal e espiritual que continuaria a inspirar sua arte", diz o professor de Artes David Underwood no livro "Oscar Niemeyer e o modernismo de formas livres no Brasil". Niemeyer começou sua carreira trabalhando de graça no escritório dos já consagrados Lúcio Costa e Carlos Leão. Participou do projeto da sede do Ministério da Educação e Saúde no Rio, primeiro monumento do modernismo na América Latina. Foi nessa época que conheceu o arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), pensador revolucionário do seu tempo, e que foi à Feira Mundial de Nova York, mostrar ao público internacional a nova arquitetura feita nos trópicos. Anos mais tarde, em 1947, Niemeyer voltaria à mesma cidade para projetar com um grupo de arquitetos, incluindo o próprio Le Corbusier, a sede da Organização das Nações Unidas (ONU). NO BRASIL E NO MUNDO Muitas de suas obras no país viraram cartão-postal, como o parque Ibirapuera em São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Tais projetos foram importantes para a consagração de seu estilo livre, aliado à nova técnica do concreto armado, na qual o material é erguido com uma armadura de aço. A técnica ajudou a criar formas inusitadas como um museu com cara de nave espacial (em Niterói) ou no formato de um olho (Curitiba). "A arquitetura não interessa, o que interessa é a vida", costuma repetir o arquiteto em entrevistas, no seu escritório em uma cobertura de Copacabana. Entre suas realizações no exterior, deixou sua marca em diversos países, a começar pela França, onde viveu nos anos 1960, exilado pela ditadura no Brasil. Projetou a sede do Partido Comunista Francês e o Centro Cultural Le Havre. Também se destacam no exterior o prédio da editora Mondadori, em Milão, a Universidade de Constantine, na Argélia, e o MAM de Caracas, na Venezuela. Artista brasileiro mais reconhecido no exterior, Niemeyer recebeu o prêmio Pritzker de Arquitetura em 1988. Das críticas que costuma receber, está a da predominância do apuro estético sobre a funcionalidade de suas obras. Um exemplo é o Memorial da América Latina, em São Paulo, tido como um lugar árido em meio a um conjunto de prédios de concreto. Mas Niemeyer costuma responder tranquilo que, "quando uma forma cria beleza, ela se torna funcional e, desse modo, fundamentalmente em arquitetura". Niemeyer, um eterno comunista, sempre declarou seu voto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apóia até um terceiro mandato. Seu amigo Fidel Castro lhe enviava charutos cubanos. Após a morte de sua mulher Annita Baldo, em 2004, voltou a se casar alguns anos depois. Em novembro, figurou em nono lugar em uma lista dos 100 gênios vivos da humanidade.

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