Pequenas vastidões na pintura de Lucas Arruda

Como vistas para o mar, as telas que o pintor apresenta na mostra 'Deserto-Modelo' são criações de sensações

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Por Camila Molina
Atualização:

A linha do horizonte com o mar é a imagem que sempre foi vista pelo homem, diz o pintor Lucas Arruda - e basta traçá-la para que pensemos em uma pintura de paisagem. Mas o artista prefere afirmar que, na verdade, vem pintando "vastidões".Elas são intimistas na sequência de pequenas telas de 24 cm X 30 cm que estão na exposição Deserto-Modelo, que Lucas Arruda acabou de inaugurar na Galeria Mendes Wood DM. Como vistas para o mar, remetem às obras de Turner, mas cada uma, com sua luz, é a criação de uma sensação, explica o artista. "Não olho nada para pintá-las, não olho fotografia, elas não têm nenhum peso de linguagem."São mentais, completa, composições de atmosferas. "Guardam um tempo de espera, como se algo fosse surgir", diz ainda Arruda, contando que um amigo, o pintor Bruno Dunley, lhe sugeriu tratarem as pequenas telas da Gênese ou do Apocalipse. Outro amigo, o pintor Rodrigo Bivar, escreveu que seus quadros "são sobre memória antes de serem pinturas sobre paisagem". O artista aponta uma tela e mostra que tentou trazer para aquela obra, já um pouco maior (de 50 cm X 50 cm), mais "ambígua", abstrata (lembra Rothko), a luz que ele tanto vê quando para seu carro na estrada para Ibiúna."Acabei indo para um lugar saturadíssimo da história da arte", diz o pintor, de 30 anos, que já tem individual programada para novembro na Galeria VeneKlasen/Werner de Berlim, e previsão de lançamento de livro sobre sua produção pela editora Cobogó. Mas, como Arruda também conta, a cada 30 paisagens, ele pinta uma mata, e uma delas também está em sua exposição. É uma bela tela. Sua atmosfera verde remete, à primeira vista, ao século 19, aos poucos se vê os riscos, o ato contemporâneo de depositar e tirar tinta da composição para deixar surgir uma "luz de interioridade" e não de profundidade entre as árvores, explica o artista.

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