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Penúltimas palavras

Não deixe para a última hora a escolha de suas últimas palavras

Por Humberto Werneck
Atualização:

Já planejou o que dizer no minuto final – daqui a muitos e muitos anos, naturalmente? Por que deixar para a última hora?

*

“Estou ficando sem bateria”, avisará o José Roberto Toledo, “ligo depois”. 

“Zwitteriônico!”, bradará, qual esfinge, o imortal Antonio Carlos Secchin no instante em que deixar de o ser em carne e osso.

“Até logo”, vai se despedir o Ignácio de Loyola, “espero vocês lá!”.

“Eu não estou nem aí”, dirá o Sergio Sister, depondo os pincéis, mas pronto para o que pintar.

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A Wanda Nestlehner vai querer um choro: “Não tem prorrogação?”.

O Marcelo Moutinho promete espernear: “Sempre fui contra conduções coercitivas”.

“Para, que eu quero descer antes do ponto final!”, ordenará o Claudio Cretti.

O cronista Guilherme Tauil tem instruções para a trilha sonora: Bolero de Ravel, nem pensar. 

“Agora são cinzas”, irá constatar a Maria Lucia Rangel.

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“Espero que não exista vida após a morte”, fará votos o Marcelino Freire. 

“Verdade?”, perguntará o romancista de Mentiras, Felipe Franco Munhoz. “Quer dizer que agora o ponto final é pra valer?”

“Putz, vou furar na academia amanhã cedo”, vai lamentar o Ronaldo Bressane, desejoso de estar sarado.

“Já?”, haverá de estranhar a Nísia Werneck, mesmo que venha a ser chamada, como sua avó, aos 105 anos. 

“Morrer é como atravessar o oceano de navio”, irá comparar, no embarque, o Edmílson Caminha: “Não dá pra sair à noite”.

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“Minhas últimas palavras?”, revela o Edesio Fernandes lá de Londres. “Espero que sejam meu motto de uma vida inteira: ‘Live and Let Live!’”

“Continuo sem entender”, haverá de tartamudear em oito sílabas poéticas o vate Fabrício Marques.

“Uê, mas já acabou?”, vai perguntar a Annamaria Marchesini, jornalista que encararia mais uma pauta.

“Tsk, eu não estava gostando mesmo”, desdenhará o ator Arildo de Barros ao sair de cena.

“Tô indo? Pra onde?”, indagará a festeira Nely Rosa, sem saber onde será sua balada póstuma.

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“Espera, mãe!”, tentará negociar o Mario Viana. “Deixa eu ficar mais um pouco!”

O André Viana talvez reprise o bordão que usa para explicar aos filhos como o mundo funciona: “É tudo muito doido”.

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“Já vou tarde”, vai admitir o Fernando Paiva. “Atrasado como sempre...”

“Tiradentes, Shakespeare, Napoleão, Montaigne, Chica da Silva...”, lamentará o repórter Marcos Caldeira Mendonça. “Os melhores entrevistáveis, com tempo de sobra, e eu indo sem gravador!” 

“Não errem meu nome na lápide”, pedirá o Jaime Prado Gouvêa, colecionador de versões estropiadas das três palavras com que figura no registro civil. 

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“Me tragam mais uma Antarctica bem gelada”, comandará o Danilo Gomes, literalmente “a saideira, a morredeira!”. 

“Que saco! Não dava para me esperar dormir???”, resmungará em português a Denise Drumond de Caux, que poderia fazê-lo em seu impecável francês. 

“Nada tenho a acrescentar nem cortar”, vai avaliar o repórter Ricardo Kotscho no fechamento de sua derradeira edição. 

“No c..., pardal!”, dirá o Sérgio Augusto antes de bater asas. 

“Naquele minutinho final”, o Alberto Villas tentará “manter o humor e roubar uma frase” do seu, do nosso querido Millôr Fernandes: “O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas”. 

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A Suzana Verissimo imaginou dizer: “Acho que a ho-/” – e aí a frase engasgou. Meus Deus, o que houve, ela nunca foi de meias-palavras! “Foi só o computador q falhou...”, tranquiliza a superlativa amiga.

“Ora, Dona Morte, não venha a senhora me dizer que este deadline é inexorável…”, tentará negociar o jornalista Edison Veiga. “Vamos jogar o fechamento para amanhã?” 

“Bem que eu desconfiava...”, ruminará em voz alta o romancista Sérgio Fantini ante o inescapável unhappy end.

O escritor Marçal Aquino lamenta, mas nada poderá dizer: “Estou em trânsito neste momento”.

*

O cronista faz saber que ainda se encontram vagas as seguintes alternativas:

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“Uma coisa que eu preciso te contar, querida(o). Sabe aquela(e) vizinha(o)?” – e não terá tempo para completar a confissão.

“Finalmente vou dormir o suficiente...” 

“Pra mim, morreu!” 

“Não está havendo um engano?”

“Não, obrigado, vou ficar mais um pouco.”

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“Alguma coisa deu errado!”

“Há males que vêm para mal...”

“Posso reiniciar?”

“Fazendo logoff...”

“Deus, me adiciona!”

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