Peça Rumo a Cardiff oferece proposta sensorial ao público

As pessoas começam acomodadas na platéia, em seguida rumam para a palco até finalmente conhecerem o porão do teatro

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Por Agencia Estado
Atualização:

Mais que uma peça, Rumo a Cardiff é uma experiência sensorial. O texto de Eugene O´Neill que aporta novamente a partir de hoje no Teatro Artur Azevedo pede uma entrega generosa do espectador. Em compensação, oferece um raro prazer teatral. Isso porque o público começa a encenação acomodado na platéia, em seguida ruma para a palco até finalmente conhecer o porão do teatro. "A intenção da primeira e segunda parte é de tentar estabelecer um ´ritual de iniciação´ do espectador, para que ele mergulhe não só racional, mas sensorialmente nas palavras dramatizadas da terceira parte", comenta André Garolli, responsável pela direção. Rumo a Cardiff é um dos primeiros textos de O´Neill, que se consagraria com obras-primas como Longa Jornada Noite Adentro. Conta como, em uma viagem do navio cargueiro Glencairn, de Nova York a Cardiff, um marinheiro se acidenta gravemente. A incapacidade dos responsáveis pela viagem de oferecer um tratamento adequado expõe a tripulação à agonia de seu par. "Solidão, morte, desejo e amizade brotam desta situação", conta Garolli, que iniciou o trabalho em junho de 2003, com o grupo de estudos formado por 30 alunos de vários cursos do grupo Tapa. Reformulada profissionalmente, a montagem faz parte do projeto de pesquisa cênica denominado Homens ao Mar, que busca incentivar formas teatrais de comunicação direta com o público, sem as convenções e artificialismos propostos pelo palco italiano. Assim, o espetáculo é dividido em três partes - na primeira, o espectador se instala na platéia (porto) de onde assiste à uma tempestade por meio de uma porta. Em seguida, ele é sobe ao palco (convés do navio) e embarca na rotina de trabalho dos marinheiros. Por último, é convidado a descer ao porão (alojamento da tripulação), onde o drama se desenrola. Durante esse tour, o espectador consegue travar contato direto com a ação, sentindo toda a pulsação da cena. Em alguns momentos, especialmente a partir das cenas desenvolvidas no palco, o contato é quase físico, com os atores quase resvalando nos espectadores. A experiência tem produzido resultados fascinantes. Garolli conta que a peça foi vista na semana passada por dois públicos distintos: adolescentes e pessoas pouco acostumadas ao teatro. Em ambos, o contato próximo com o corpo, som, música, ritmo, cheiro e cor foi bem recebido. "Todos ficaram envolvidos com nosso jogo teatral." Rumo a Cardiff. Teatro Arthur Azevedo, Av. Paes de Barros, 955, Mooca, 6605-8007. 80 min. 2ª a 4ª, 21 horas. R$ 10. Até 31/5. Reestréia hoje

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