Peça retrata sentimento da negritude

Um grupo de atores e poetas, dirigidos por Bernadeth Alves, se propõe a representar o sentimento de negritude por meio do espetáculo Livr´Aberto

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Como se traduz em cena ou como se investiga por meio da linguagem o sentimento de negritude? Esse é o experimento que um grupo de atores e poetas, dirigidos por Bernadeth Alves se propõe a fazer por meio do espetáculo Livr´Aberto que estréia nesta quarta-feira, no Centro Cultural São Paulo. Foram mais de dois anos de processo de trabalho entre a idéia inicial, da atriz e poetisa Lizette Negreiros, até a concepção final do espetáculo. Lizette foi a responsável pela seleção das poesias que entram em cena, todas de poetas negros, desde autores já clássicos como Cruz e Sousa, até contemporâneos como a própria Lizette, Oliveira Silveira, José Carlos Limeira, Conceição Evaristo e Estevão Maya-Maya. A diretora Bernadeth - no momento também assistente de direção de Márcio Aurélio no espetáculo Souvernirs, que estréia no Teatro Popular do Sesi no sábado - foi escolhida para o projeto por Lizette. "Somos todos negros e temos um entendimento comum de questões culturais, sociais e comportamentais", diz Bernadeth. Tendo como matéria-prima uma colagem de poemas e três atores - Lizette, Maya-Maya e Orlando de Souza - Bernadeth optou por um espetáculo ritualizado e foi buscar na cultura africana a inspiração para ritmos e gestuais, cantos e danças. "Não queríamos a poesia ilustrada ou simplesmente samba e axé. Estudamos a mitologia africana e a coreografia dos espetáculo inspira-se no gestual dos orixás, assim como as sonoridades." Também figurinos e elementos de cena foram desenhados a partir de uma pesquisa sobre a cultura de Benin, país africano de onde, segundo a diretora, saiu a maior parte dos negros escravizados. "Mas Livr´Aberto não é um espetáculo cuja preocupação seja discutir a situação do negro. ê uma espetáculo leve, um experimento plástico e rítmico." Alguns poemas foram musicados. O poema de abertura, Estética, de Solano Trindade, fala sobre a necessidade de não disciplinar emoções estéticas: "Basta que somente eu sofra/a disciplina da vida/mas a estética, deve ser sempre liberta!" O elenco começa a falar esse poema de abertura vestido com sobriedade de executivos. "Aos poucos, eles vão trocando esses figurinos ´disciplinados´ pelas coloridas vestes africanas", comenta a diretora. Mas nenhum figurino ou gestual reproduz realisticamente seja um ritual de camdomblé, seja uma roupa usada em Benin. "São apenas fontes de inspiração." A equipe de criação de Livr´Aberto formou o Grupo Kaúta de Teatro. "Nossa idéia é traduzir o sentimento da negritude em vários outros espetáculos", afirma Lizette. Serviço - Livr´Aberto. De diversos poetas negros, entre eles Solano Trindade,Paulo Colina, José Carlos Limeira e Luiz Silva. Direção Bernadeth Alves. Duração: 70 minutos. Quarta e quinta, às 21 horas. R$ 10,00 (promocional). Teatro Ruth Escobar - Sala Dina Sfat. Rua dos Ingleses, 209, São Paulo. tel. 289-2358.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.