Peça 'Nomes do Pai' é baseada em Kafka e Rilke

PUBLICIDADE

Por AE
Atualização:

Nos anos 1990, então aspirante a ator do Teatro Escola Célia Helena, Ruy Cortez foi sondado pelo tio famoso, Raul Cortez, para montar um espetáculo que unisse dois textos clássicos da literatura: "Carta ao Pai", de Franz Kafka, e "Cartas a Um Jovem Poeta", de Rainer Maria Rilke. "Raul tinha um grande fascínio pelas palavras e, na sua concepção, ele leria os trechos do Rilke enquanto eu ficaria com os de Kafka", relembra Ruy que, com a indefinição do projeto ("Eu me direcionei para a direção, enquanto ele se envolveu com outras peças"), guardou a ideia para uma nova oportunidade - como a que acontece amanhã, com a estreia de "Nomes do Pai", no Teatro Ágora, em São Paulo.Com o passar dos anos, o projeto amadureceu e tomou novos rumos. O primeiro e mais significativo é a ausência de palavras: em cena, os atores Fábio Takeo e Rafael Steinhauser comunicam-se por gestos e expressões, engrandecidos pela iluminação e por uma trilha sonora especialmente composta. Na essência, o conflito no relacionamento entre pai e filho, tema que inspira outra peça em cartaz, "A Grande Volta". "Esse era o ponto de partida do trabalho que o Fábio e o Rafael queriam fazer quando me convidaram para o projeto, em 2007", conta Ruy, que imediatamente se lembrou da parceria não realizada com Raul. Assim, as obras de Kafka e Rilke forneceram a base do processo colaborativo. Mas quando surgiu a ideia de não se utilizar a palavra falada? "Foi a partir do texto do Kafka, que é uma carta não enviada ao pai. Assim, essa comunicação não realizada nos inspirou a fazer o espetáculo sem palavras." Escrito em 1919, o texto que resultou no livro "Carta ao Pai" é um longo desabafo em que Kafka responsabiliza o pai por sua incapacidade de viver, casar e amar como os outros - sobrou-lhe a literatura, portanto, para exorcizar um grito ameaçado de ficar parado no ar.Já as "Cartas a Um Jovem Poeta", escritas entre 1903 e 1908 com a intenção de revelar ao aspirante Franz Xaver Kappus o intrincado mundo interior do escritor, apontam a solidão como a condição única e verdadeira para a criação de uma obra autêntica. Um tema que, de alguma forma, caminha em paralelo ao torturante universo literário do autor checo.A transposição para a cena foi meticulosa. Ruy conta que ele e a dupla de atores criavam uma cena para cada página dos livros, sempre sem usar a voz. "Logo, percebemos que o texto do Kafka era mais teatral, portanto, acabou predominando", explica. "Rilke é quase um negativo de Kafka e, como um iluminava o outro, escolhemos o caminho de examinar a função do pai e as questões da paternidade e, por extensão, a cultura patriarcal." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.Nomes do Pai - Teatro Ágora. Sala Gianni Ratto (88 lug.). Rua Rui Barbosa, 672. Telefone (011) 3284-0290. Sáb., 18h; dom., 17h. Até 4/7.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.