
14 de maio de 2010 | 10h32
Com o passar dos anos, o projeto amadureceu e tomou novos rumos. O primeiro e mais significativo é a ausência de palavras: em cena, os atores Fábio Takeo e Rafael Steinhauser comunicam-se por gestos e expressões, engrandecidos pela iluminação e por uma trilha sonora especialmente composta. Na essência, o conflito no relacionamento entre pai e filho, tema que inspira outra peça em cartaz, "A Grande Volta". "Esse era o ponto de partida do trabalho que o Fábio e o Rafael queriam fazer quando me convidaram para o projeto, em 2007", conta Ruy, que imediatamente se lembrou da parceria não realizada com Raul.
Assim, as obras de Kafka e Rilke forneceram a base do processo colaborativo. Mas quando surgiu a ideia de não se utilizar a palavra falada? "Foi a partir do texto do Kafka, que é uma carta não enviada ao pai. Assim, essa comunicação não realizada nos inspirou a fazer o espetáculo sem palavras." Escrito em 1919, o texto que resultou no livro "Carta ao Pai" é um longo desabafo em que Kafka responsabiliza o pai por sua incapacidade de viver, casar e amar como os outros - sobrou-lhe a literatura, portanto, para exorcizar um grito ameaçado de ficar parado no ar.
Já as "Cartas a Um Jovem Poeta", escritas entre 1903 e 1908 com a intenção de revelar ao aspirante Franz Xaver Kappus o intrincado mundo interior do escritor, apontam a solidão como a condição única e verdadeira para a criação de uma obra autêntica. Um tema que, de alguma forma, caminha em paralelo ao torturante universo literário do autor checo.
A transposição para a cena foi meticulosa. Ruy conta que ele e a dupla de atores criavam uma cena para cada página dos livros, sempre sem usar a voz. "Logo, percebemos que o texto do Kafka era mais teatral, portanto, acabou predominando", explica. "Rilke é quase um negativo de Kafka e, como um iluminava o outro, escolhemos o caminho de examinar a função do pai e as questões da paternidade e, por extensão, a cultura patriarcal." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Nomes do Pai - Teatro Ágora. Sala Gianni Ratto (88 lug.). Rua Rui Barbosa, 672. Telefone (011) 3284-0290. Sáb., 18h; dom., 17h. Até 4/7.
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