14 de outubro de 2010 | 00h00
Embrenhando-se pelos contos do autor, a dramaturga Silvia Gomez, a quem coube o texto final do espetáculo, pinçou três histórias. Todas orbitam em torno de uma temática comum: o amor. Mas na ficção muriliana, vale ressalvar, o sentimento amoroso passa sempre ao largo do ideal romântico; resulta, inexoravelmente, na impossibilidade do encontro. Em relevo, despontam seres que desejam escapar (não se sabe ao certo de quê), mas não conseguem. Estão aprisionados, condenados a priori.
Somos apresentados ao trio: Pedro Inácio, que contabiliza os custos dos amores que teve; Godofredo, uma espécie de Barba Azul, que mata suas mulheres; e a um personagem sem nome próprio, tão anulado pela relação que se apresenta apenas como "marido de Bárbara".
A atriz Débora Falabella e a diretora Yara de Novaes, que se transferiram para a capital paulista há mais de cinco anos, bem que tentaram se descolar do rótulo de "criadoras mineiras". Com o grupo 3, montaram A Serpente, de Nelson Rodrigues, e O Continente Negro, drama realista do chileno Marco Antonio de La Parra. Com a estreia de O Amor e Outros Estranhos Rumores, porém, voltam os olhos para as origens.
"É, de certa maneira, um retorno para esse sentimento de confinamento que Belo Horizonte sugere. Uma geografia que nos força a olhar para dentro", diz a diretora, que convocou o ator Rodolfo Vaz, do grupo Galpão, para reforçar o elenco de conterrâneos. "Não sei se ser mineira resulta em uma determinada obra, mas certamente resulta em algo dentro de nós."
O encontro com a literatura de Rubião, conta Novaes, deu-se durante a Mostra de Arte Mineira Contemporânea, evento que ajudou a organizar no Sesc Pompeia, em 2008. "Na mostra a gente se voltou para a literatura de Minas e acabou topando com o Rubião. Foi então que ficou claro como a obra dele se presta a uma dramaturgia contemporânea."
Com tonalidades fantásticas e uma relação de tempo e espaço que escapa à tradição, o escritor engendra narrativas que exigem uma encenação fora da lógica de interpretação naturalista, bem ao gosto da cena atual.
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